Reflexões sobre a ética na individualidade, coletividade e formação profissional

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Introdução

A ética, em suas diversas manifestações, abrange tanto o âmbito individual quanto o social, delineando padrões de conduta e valores que orientam as interações humanas. No plano individual, a ética refere-se aos princípios que guiam as ações interpessoais, fundamentados na moralidade pessoal e na percepção do que é correto ou incorreto nas relações humanas (Lima, 2010). 

Em contrapartida, a ética social transcende o indivíduo ao englobar normas e valores compartilhados pela sociedade, muitas vezes institucionalizados através de leis e regulamentos que moldam comportamentos coletivos (Maximiano, 2007).

A perspectiva filosófica da ética destaca-se por fundamentar as decisões morais na razão humana, enquanto a abordagem teológica acrescenta à razão os ensinamentos revelados, como na ética cristã, influenciando a moralidade cultural (Arquidiocese, 2014). 

Ambas as visões enfatizam a importância de um entendimento ético que respeite tanto a liberdade individual quanto as exigências coletivas, evitando imposições que comprometam os direitos fundamentais (Cardona, 2018).

A diferença entre ética individual e ética social

Entendemos que a ética individual se refere diretamente ao que fazemos correta ou incorretamente com os outros. São nossos princípios e valores que nos inspiram. De acordo com Lima (2010, p. 10), as “[…] questões éticas, no plano individual, dizem respeito a maneira como as pessoas devem tratar umas às outras”. Além disso, discute-se sobre as normativas éticas que devem guiar as decisões que impactam diretamente ou indiretamente outros indivíduos na sociedade.

Do ponto de vista filosófico, a ética rege as ações humanas de acordo com sua razão, ou seja, o ser humano age de acordo com o que acredita ser correto a partir de sua moralidade. Nesse caso, todas as regras e leis devem ser baseadas filosoficamente e não apenas impostas, como às vezes é o caso na ética social. (Arquidiocese, 2014).

Para definir a ética social podemos entender que quando ultrapassa os limites dos indivíduos e envolve algo maior, torna-se social. A fronteira social às vezes pode incluir leis que podem não fazer sentido para nós, mas devem ser respeitadas. Segundo Maximiano (2007, p. 295), no “[…] nível da sociedade em geral, os problemas éticos estão relacionados à presença, papel e efeito das organizações na sociedade”.

Agora, se tomarmos como base o viés teológico, a ética está totalmente voltada para o interior do sujeito. Sua fé e crença são seus maiores motivadores. Nesse sentido, de acordo com nossas crenças, baseio e criamos nossos valores e moral. Estendemos a mão para os colegas e criamos nosso código de ética que servirá ao grupo de acordo.

Desta forma, a ética filosófica fundamenta-se na razão para avaliar moralmente as ações como boas ou más. Já a ética teológica combina a razão com os ensinamentos revelados pela Divina Revelação para discernir as ações como pecaminosas ou virtuosas. Por sua vez, a ética cristã percebe os vestígios da Revelação Cristã presentes na cultura, especialmente na cultura ocidental, influenciando a compreensão moral e ética (Arquidiocese, 2014).

Em ambos os pontos de vista, partimos sempre do indivíduo para o todo. No entanto, em algumas sociedades, a ética pode ser imposta pela maioria e não faz sentido para alguns de seus membros. Se levarmos em consideração os direitos humanos, quando de alguma forma criamos leis e impomos a vontade da maioria, estamos prejudicando o direito à liberdade. Nesse caso, o indivíduo tem duas opções: sair de um grupo social ou incorporar as leis que lhe são impostas.

Para Cardona (2018), as restrições impostas aos seres humanos em qualquer sistema, exceto quando violam direitos fundamentais como liberdade, consciência e respeito mútuo, fundamentos da ética individual, não devem ser substituídas por uma ética coletiva controlada por um estado totalitário. Nesse contexto, as intimidades das consciências individuais e as decisões pessoais relacionadas ao amor e à escolha do parceiro não devem ser interferidas.

Então, entendemos que a ética é um processo complicado e difícil, pois dependemos de um entendimento totalitário. E isso pode nunca acontecer, pois cada ser humano é único e tem suas próprias necessidades. Continuamos a nos adaptar às regras impostas pela sociedade, é óbvio que vão surgindo problemas conflituosos e isso faz parte de um processo saudável da chamada democracia.

A ética profissional do professor universitário

No Brasil, a ética é ensinada formalmente na educação básica. Esteve presente em diversas disciplinas: Organização Social e Política do Brasil (OSPB), Educação Moral e Cívica, entre outras. Atualmente, esta função corresponde aos professores de História, Filosofia ou Sociologia.

Em relação aos planos de estudos universitários, a base teórica ético-moral está relacionada ao desenvolvimento profissional da disciplina e como ela utilizará seus ensinamentos na construção de uma sociedade mais justa. (Castro, 2013)

Portanto, o professor é um elemento fundamental para que o aluno desenvolva sua perspectiva ética e moral. No ensino superior, em particular, podemos explorar seu projeto de vida analisando a percepção de respeito para com o grupo (Rodrigues; Camargo, 2018).

Desta forma, os objetivos serão alcançados quando tivermos mais flexibilidade nos planos de estudos, trabalhando problemas específicos com base nas necessidades dos alunos para envolver questões transversais como a sustentabilidade e o ambiente, por exemplo. (Castro, 2013)

Na maioria dos cursos stricto sensu, há uma falta de preocupação com o aspecto pedagógico, que é onde se incute a dimensão ética do ensino. Sabe-se que esse não é o objetivo principal do curso, mas faria uma grande diferença na formação de professores para atuar em sua carreira universitária. (Vasconcellos, 2008)

No contexto da ética utilitarista, entendemos que quanto mais preparados os professores, melhor é a formação dos alunos. Para isso, é necessário adaptar o ensino aos contextos práticos, gerando aprendizagens significativas.

Neste contexto, Vasconcellos (2008) nos diz que o caráter pedagógico intrínseco aos cursos deve ser conscientemente desenvolvido pela comunidade acadêmica através de um trabalho organizado e intencional. O que implica transmitir rigorosamente o conhecimento disciplinar e em compreender e aplicar as conexões sociais e práticas desse conhecimento. 

Para isso, é preciso criar abordagens diferentes para produzir conhecimento, enquanto simultaneamente forma indivíduos com uma consciência ética e política em relação ao seu trabalho científico, reconhecendo o valor da formação pedagógica e da prática docente.

O estudo da ética serve como instrumento para o professor discernir seus direitos e deveres, além da importância de uma educação voltada para a cidadania. Contribuindo assim para a formação de cidadãos comprometidos com a democracia e a responsabilidade social (Bolívar, 2005).

Assim, a formação do professor universitário envolve adquirir conhecimentos abrangentes das diversas áreas do conhecimento, integrando-os de maneira holística e transdisciplinar. Isso contribui para configurar sua personalidade com fundamentos ontológicos e epistemológicos, preparando-o para a docência (León, 2014).

Portanto, mesmo que não haja mudança curricular imediata, o professor precisa fortalecer de forma autônoma seus conhecimentos de ética para alcançar uma formação integral composta por três níveis: deontologia profissional, ética profissional e educação para o cidadão (Bolívar, 2005)

Fonte: (Mattar, 2010, p. 241).

Nesse sentido, o campo da ética é composto pela moralidade, responsável pelos fatores comportamentais, e pela deontologia, conjunto de atribuições profissionais. (Carolino, 2019)

Profissões como a medicina possuem um rígido código de ética, e o aluno deve ter pleno conhecimento de suas regras para exercer a profissão. O não cumprimento pode resultar na perda do direito adquirido do profissional. O professor, neste sentido, tem a função de informar os alunos sobre o compromisso público de seus alunos com a sociedade.

Diante dos aspectos expostos, percebe-se a urgência de atualização do professor em relação às deontologias das profissões onde leciona. É essencial que os alunos recebam um treinamento abrangente. E para que isso aconteça, o professor é parte fundamental.

Portanto, os cursos de pós-graduação stricto sensu precisam inserir a questão ética para colaborar com um professor melhor e, consequentemente, com a formação do aluno. Satisfazendo as expectativas e demandas da sociedade, onde serão herdados como profissional em todas as áreas de especialização. Garantindo assim uma comunidade mais coesa, comprometida e consciente de seus direitos e deveres.

Conclusão

Neste sentido, a reflexão sobre ética revela-se essencial não apenas para o entendimento das dinâmicas individuais e sociais, mas também para a formação profissional, especialmente no contexto acadêmico. A ética não se restringe a um conjunto de normas impostas, mas sim a um processo contínuo de reflexão e integração dos valores pessoais e sociais na prática educativa. 

Portanto, investir na formação ética dos professores universitários não apenas fortalece o caráter moral dos futuros profissionais, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais consciente, justa e responsável, capaz de enfrentar os desafios contemporâneos com integridade e equidade.

Referências

ARQUIDIOCESE. Introdução à Ética Filosófica. Seminário Arquidiocesano São José, Rio de Janeiro, 2014. Disponível em:  https://pt.slideshare.net/CursoDeFerias/introducao-a-tica-filosofica. Acesso em: 15 jul. 2020.

BOLÍVAR, A. El lugar de la ética profesional en la formación universitaria. Revista mexicana de investigación educativa, v. 10, n. 24, p. 93-123. 2005. Disponível em: http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1405-66662005000100093&lng=es&tlng=es. Acesso em: 30 jul. 2020.

CARDONA, J. ¿Ética individual o colectiva?. El Imparcial, [s. l.], 2018. Disponível em: https://www.elimparcial.es/noticia/189742/opinion/etica-individual-o-colectiva.html. Acesso em: 15 jul. 2020.

CAROLINO, G. M. A deontologia como instrumento de amparo profissional na prática da aviação: precisamos falar sobre a ética. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. v. 4, n. 12, p. 16-24. 2019. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/ciencias-aeronauticas/deontologia-como-instrumento. Acesso em: 19 dez. 2020. 

CASTRO, Judith. Ética profesional y formación de profesores universitarios. Perfiles educativos, v. 35, n. 142, p. 33-42. 2013. Disponível em: http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0185-26982013000400019&lng=es&tlng=es. Acesso em: 30 jul. 2021.

LEÓN, R. La Ética Del Docente Universitario Como Eje De La Función Educativa. 2014. Tese. Universidad de San Carlos de Guatemala, Quetzaltenango, Ciudad de la Guatemala, Guatemala, 2014.

LIMA, E. P. S. Proposta de implantação de um código de ética numa empresa do segmento de papel e celulose. 2010. Monografia (Especialista em Gestão de Negócios) – Universidade Federal do Paraná, [S. l.], 2010. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/66770/ELOISA%20PRESTES%20SANTOS%20LIMA.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 15 jul. 2020.

MATTAR, J. Introdução à filosofia. São Paulo: Ed. Pearson, 2010. 

MAXIMIANO, A. C. A. Teoria Geral da Administração. São Paulo: Atlas, 2007.

RODRIGUES, C.; CAMARGO, R. Formação Moral e Ética nos Cursos de Graduação. Revista De Graduação USP, v. 3, n. 1, p. 19. 2018. Disponível em: 10.11606/issn.2525-376x.v3i1p19-27. Acesso em: 30 jul. 2021.

VASCONCELLOS, M. M. A formação do docente universitário sob o prisma da ética. VIII Educere, p. 347-357. Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2008. Disponível em: https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2008/752_496.pdf. Acesso em: 08 nov. 2020.

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