Na tessitura complexa das relações humanas, emerge o efeito manada, intrínseco à natureza humana e à sua necessidade de segurança e cooperação para a sobrevivência. Este fenômeno comportamental, ancestral e instintivo, remonta aos primórdios das agrupações humanas, onde a união em grupos garantia proteção contra ameaças e eficácia na distribuição de tarefas e recursos. Tal comportamento, inconsciente e arraigado, proporcionando um conforto existencial ao pertencer a um coletivo, desempenhou um papel crucial na evolução social, desde a formação de tribos primitivas até as complexas civilizações contemporâneas.
Este impulso para a aceitação e a inclusão, profundamente ligado aos instintos primitivos de sobrevivência e reprodução, é moldado pela genética e pela evolução cerebral, notadamente no desenvolvimento do córtex pré-frontal, essencial na tomada de decisões coletivas. Regiões cerebrais como o sistema límbico e as áreas têmporo-parietais, que orquestram o processamento emocional e social, reforçam este comportamento de grupo. Este fenômeno, contudo, é também modelado por fatores culturais, aprendizado social e condições socioeconômicas, e pode ser instrumentalizado politicamente para a consolidação de poder. Neste contexto, a inteligência emocional contemporânea permite a alguns indivíduos a habilidade de viver bem tanto em sociedade quanto de forma independente.
Por outro lado, o “efeito zumbi” descreve um estado de passividade quase hipnótica, onde predominam ações inconscientes e a racionalidade, precaução e lógica parecem suspensas. Este fenômeno, assemelhando-se a um hospedeiro sob o jugo de um parasita, pode ser interpretado como uma progressão do efeito manada, representando uma fase mais avançada onde o indivíduo, já subjugado pelo consenso grupal, atua num estado “zumbificado”, desprovido de reflexão ou crítica ao contexto.
Este efeito espelha uma intersecção preocupante com traços de transtornos de personalidade dramáticos e narcisismo que permeiam a sociedade atual. Um exemplo palpável desta realidade é o cotidiano do Rio de Janeiro, onde delitos como roubos e furtos são assimilados na paisagem urbana e enfrentados com uma apatia coletiva surpreendente. Testemunhas desviam-se dos incidentes sem intervenção, e as vítimas, ao minimizarem o trauma, prosseguem suas vidas como se tais violações fossem meros percalços.
Esta trivialização do inaceitável sinaliza um retrocesso social, evocando tempos históricos de severas punições para desvios, que hoje, paradoxalmente, são ignorados ou aceitos com resignação. Essa apatia coletiva aponta para uma distopia moderna, reminiscente de cenários pós-apocalípticos, onde a mera sobrevivência eclipsa os demais aspectos da condição humana. Tal realidade transforma a sociedade em um laboratório para o estudo do declínio civilizacional, preludiando uma nova narrativa cinematográfica sobre o fim dos tempos.