Procedimentos cirúrgicos em tempos de pandemia

Por Alexandre Silva e Silva

A pandemia do covid-19 trouxe consigo, além das preocupações com a saúde mundial, inúmeras mudanças em nossas rotinas diárias. Das questões que envolvem o isolamento, o uso de máscaras e às novas vacinas, muito daquilo que fazíamos corriqueiramente mudou desde o momento em que tudo isso começou.

No que diz respeito à medicina, não foi diferente e uma nova realidade também apresentou-se a todos os médicos e profissionais da saúde, tanto para os que estavam nas linhas de frente de combate ao vírus, como para aqueles que continuaram a atender as demandas naturais de seus pacientes.

Apesar de toda a preocupação com a nova doença, as nossas pacientes continuavam sofrendo com outros males que já as acometiam e agora, associado à eles, o medo de se contaminar e contrair a tão temida doença durante o processo de busca por diagnóstico e tratamento.

À partir do momento em que o “lockdown” foi decretado, não só as ruas se esvaziaram. Os centros cirúrgicos de todo o país e de boa parte do mundo, praticamente pararam de atuar, principalmente com a realização de procedimentos chamados de eletivos (que não eram urgências ou emergências) e com isso, muitos pacientes que vinham em programação cirúrgica, tiveram suas cirurgias suspensas por tempo indeterminado.

As recomendações de não operar cirurgias eletivas, se deram devido ao receio das instituições hospitalares, de que uma demanda exacerbada por vagas de internação, vagas de UTI e até mesmo da necessidade de uso de salas de cirurgia como leitos de UTI, pudesse acontecer. Atender as demandas da pandemia, passaram a ser o foco principal do atendimento médico e hospitalar em detrimento do atendimento de quase todos os outros males de saúde que acometem a humanidade.

Doenças como o câncer, por exemplo, deixaram de ser diagnosticadas e tratadas em tempo hábil para a sua cura. O retardo na realização de exames, tratamentos cirúrgicos e adjuvantes nessa área, impactaram com toda a certeza na evolução da doença e no  avanço da mesma, tornando alguns casos mais complexos e intratáveis, mudando para pior o prognóstico de muitos pacientes. Angústia e sofrimento tornaram-se realidade para toda a população de uma maneira geral.

Pacientes com câncer, em sua grande maioria, apresentam comorbidades (outras doenças além do câncer) que podem tornar seus procedimentos cirúrgicos mais complexos e necessitarem de internação pós-operatória em UTI, necessitando desta forma de um leito ou vaga previamente ocupada por um paciente infectado por covid-19. Decidir sobre o que era prioridade, combater o covid-19 ou o câncer, passou a fazer parte de nossa rotina diária.

Mesmo quando a quarentena passou, novas demandas pré-operatórias surgiram, como a necessidade de realização de exames de PCR para covid-19 antes da internação, solicitadas por vários hospitais para controle de fluxo de pacientes dentro de suas unidades e controle da infecção. Os acompanhantes passaram a não mais acompanhar seus entes queridos e sim sofrerem em seus lares, aguardando por informações referentes à evolução dos casos de cada um deles.

Foram momentos difíceis, de muita angústia para todos aqueles que necessitaram de algum tipo de contato com serviços de saúde durante a pandemia. Com a vacinação da  maior parte da população, dias melhores virão e quem sabe possamos retornar com parte das nossas rotinas e atividades da maneira como elas eram antes. Algumas mudanças de comportamento ainda vão perdurar por um bom tempo e o mundo pós pandemia seguirá adaptando-se às demandas desses novos tempos.

Sobre o doutor Alexandre Silva e Silva

Dr. Alexandre Silva e Silva, se formou em 1995 na Faculdade de Ciências Médicas de Santos em medicina e fez residência em ginecologia obstetrícia no Hospital Guilherme Álvaro. Título de especialista em Ginecologia e Obstetrícia em 1999. Título de especialista em Histeroscopia em 1998. Título de especialista em laparoscopia em 2000. Certificação em cirurgia robótica em 2007 no Hospital Metodista de Houston. Certificação em cirurgia robótica single site em 2016 em Atlanta. Mestre em ciências pela Universidade de São Paulo em 2019.

Foi pioneiro em cirurgia minimamente invasiva a partir do ano de 1998. E dá aulas de vídeo cirurgia desde então. Referência em vídeo-laparoscopia e cirurgia robótica.

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