Indivíduos com alto quociente de inteligência (QI) frequentemente apresentam características que os distinguem da população geral, incluindo uma propensão à análise profunda e complexa, que pode culminar em preocupação excessiva. Rodrigues et al. (2024) exploraram essa relação por meio de uma abordagem neurocientífica e genômica, buscando elucidar as causas e os impactos dessa predisposição.
A pesquisa revelou que a amígdala, uma estrutura cerebral fundamental no processamento de emoções como medo e ansiedade, exibe atividade aumentada em indivíduos com alto QI. Essa hiperatividade pode levar a uma interpretação negativa de estímulos ambientais, desencadeando um ciclo de ruminação e preocupação. Além disso, o córtex pré-frontal, responsável por funções executivas como planejamento e tomada de decisões, pode apresentar atividade reduzida durante episódios de preocupação, dificultando a interrupção de pensamentos negativos.
Estudos anteriores também foram revisados para aprofundar a compreensão do tema. Freeston, Dugas e Ladouceur (1996) investigaram a natureza da preocupação, revelando que indivíduos que se preocupam excessivamente tendem a usar mais pensamentos verbais do que imagens visuais, sugerindo um processamento cognitivo mais intenso. Stöber e Joormann (2001) analisaram as interações entre preocupação, procrastinação e perfeccionismo, indicando que indivíduos com alto QI podem ser mais propensos a essas características, impactando negativamente seu bem-estar. Já Servaas et al. (2014) exploraram os correlatos neurais da preocupação e sua associação com neuroticismo, destacando a ativação de áreas cerebrais específicas em indivíduos com alta sensibilidade a estímulos.
A pesquisa de Rodrigues et al. (2024) também abordou o papel da genética na predisposição à preocupação, indicando que polimorfismos em genes relacionados à serotonina e ao fator neurotrófico derivado do cérebro podem influenciar os níveis de preocupação. Além disso, um polimorfismo no DNA mitocondrial foi associado ao QI, sugerindo que variações genéticas podem influenciar tanto a inteligência quanto traços psicológicos associados, como a ansiedade e a preocupação.
Em conclusão, a preocupação excessiva em indivíduos com alto QI é um fenômeno complexo, influenciado por fatores neurobiológicos, genéticos e ambientais. A compreensão desses mecanismos é crucial para o desenvolvimento de intervenções eficazes, como terapia cognitivo-comportamental, técnicas de relaxamento e mindfulness, que podem auxiliar no manejo da preocupação e na melhoria da qualidade de vida dessas pessoas.
Referência:
RODRIGUES, F. A. A; NASCIMENTO, F. H. S; WAGNER, R. E. S.; LIMA, C. E. R.; MELO, A. M.; CRUZ, L. N. Análise da preocupação excessiva em indivíduos com alto QI: uma abordagem neurocientífica e genômica. Ciência Latina Revista Científica Multidisciplinar, v. 8, n. 3, p. 72-87, 2024.