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Pão com água: entenda os hábitos dos autistas

Um exemplo simbólico dessa peculiaridade é a preferência por alimentos simples, como “pão com água”, que reflete não apenas escolhas alimentares, mas também uma interação complexa entre os aspectos sensoriais, comportamentais e neurobiológicos característicos do autismo.

por Redação CPAH

Os hábitos alimentares de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) são frequentemente marcados por seletividade e repetição. Um exemplo simbólico dessa peculiaridade é a preferência por alimentos simples, como “pão com água”, que reflete não apenas escolhas alimentares, mas também uma interação complexa entre os aspectos sensoriais, comportamentais e neurobiológicos característicos do autismo. Esse padrão alimentar singular exige atenção especial, tanto para compreender suas causas quanto para abordar suas consequências.

O que está por trás da seletividade alimentar?

Estudos mostram que até 70% das pessoas com TEA apresentam algum grau de seletividade alimentar. Essa característica está diretamente relacionada à sensibilidade sensorial, um traço marcante do espectro autista. Texturas, sabores, aromas e até a aparência dos alimentos podem ser percebidos de maneira amplificada ou aversiva. Assim, alimentos como pão e água, que possuem textura previsível, sabor neutro e aparência simples, tornam-se uma escolha confortável.

Além disso, a necessidade de rotina e a aversão a mudanças reforçam esse comportamento alimentar. Para muitos autistas, a repetição de um alimento específico é uma forma de manter estabilidade e evitar a ansiedade que a introdução de novos alimentos pode causar.

Fixações alimentares e padrões bem definidos

Outro fator relevante é a fixação alimentar, um comportamento comum no TEA, no qual o indivíduo demonstra preferência intensa e duradoura por determinados alimentos. Isso explica por que algumas pessoas autistas repetem o mesmo cardápio por longos períodos, com escolhas que muitas vezes parecem incomuns ou limitadas.

Alimentos como pão ou arroz são frequentemente escolhidos não apenas por serem confortáveis, mas também por serem nutricionalmente neutros e fáceis de consumir. Essas escolhas refletem um equilíbrio entre preferências sensoriais e a necessidade de previsibilidade.

Impactos na saúde

Embora essas preferências alimentares proporcionem conforto ao indivíduo, elas podem levar a deficiências nutricionais. Dietas restritas, quando mantidas por longos períodos, podem causar carências de vitaminas, minerais e proteínas, essenciais para o desenvolvimento e o bem-estar. Essa preocupação é destacada em estudos que mostram maior incidência de problemas gastrointestinais e metabólicos em pessoas com TEA.

Ainda assim, é importante ressaltar que essas escolhas alimentares não devem ser vistas como “birra” ou “teimosia”. São comportamentos enraizados nas particularidades do cérebro autista e, muitas vezes, representam uma tentativa de lidar com sobrecargas sensoriais e emocionais.

Como lidar com esses hábitos?

A abordagem ideal para os hábitos alimentares no autismo exige compreensão e paciência. Estratégias como a introdução gradual de novos alimentos, respeitando preferências sensoriais, podem ser eficazes. Por exemplo, apresentar novos alimentos que tenham textura ou sabor semelhante aos já aceitos ajuda a ampliar o repertório alimentar.

Além disso, é importante trabalhar em parceria com nutricionistas e terapeutas ocupacionais, que podem ajudar a equilibrar a nutrição sem forçar mudanças que gerem estresse. A inclusão de alimentos saudáveis dentro das preferências do indivíduo é mais efetiva do que a imposição de uma dieta rígida.

Conclusão

Os hábitos alimentares dos autistas, como a preferência simbólica por “pão com água”, revelam uma complexa interação entre sensibilidade sensorial, comportamento e neurobiologia. Respeitar esses padrões, enquanto se busca gradualmente ampliar a variedade de alimentos consumidos, é fundamental para promover bem-estar e saúde. Mais do que compreender os desafios, é necessário adotar uma abordagem empática e adaptada, reconhecendo que, no autismo, até as escolhas alimentares contam uma história única sobre como cada indivíduo percebe e interage com o mundo.

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