O status social é um preditor crucial de diversos resultados importantes, incluindo saúde física e mental, e funcionamento neurocognitivo. Pesquisas recentes sugerem que o status social também afeta a forma como as pessoas navegam em seus mundos sociais e processam informações sociais. Um corpo crescente de evidências aponta para diferenças baseadas no status em comportamentos sociais e processos cognitivos, especialmente em tarefas que envolvem “mentalização”, ou seja, pensar sobre os pensamentos e sentimentos dos outros.
Indivíduos com status social mais baixo tendem a exibir comportamentos que indicam uma maior atenção ao parceiro de interação, como mais contato visual, acenos de cabeça e risadas. Em contraste, indivíduos de status mais alto demonstram menor engajamento. Além disso, pessoas de baixo status social são mais propensas a ser generosas em jogos econômicos e a doar uma maior porcentagem de sua renda para caridade. Esses dados convergem para a ideia de que o status social modera o grau de foco que os indivíduos têm nos outros.
No campo da cognição social, o status social também afeta o desempenho em tarefas que exigem a inferência dos estados mentais alheios. Indivíduos de status mais baixo são mais precisos na inferência de estados emocionais de outros, e essa precisão aumenta quando são experimentalmente manipulados para sentir baixo status. A literatura sugere que indivíduos de status social mais baixo são mais propensos a se engajar em processos cognitivos sociais que auxiliam na compreensão do pensamento, sentimento e comportamento dos outros.
Estudos de neuroimagem oferecem a oportunidade de examinar a extensão em que as pessoas engajam processos cognitivos sociais, mesmo quando não são explicitamente solicitadas a fazê-lo. Uma rede de regiões cerebrais, incluindo o córtex pré-frontal dorsomedial (DMPFC), o córtex pré-frontal medial (MPFC), o precuneus/córtex cingulado posterior (PCC), a junção temporoparietal (TPJ) e o sulco temporal superior posterior (pSTS), é consistentemente ativada durante tarefas que exigem a compreensão dos estados mentais de outros, ou mentalização.
Duas pesquisas utilizando ressonância magnética funcional (fMRI) forneceram evidências convergentes sobre essa relação. No Estudo 1, a percepção do status social de estudantes universitários estava relacionada à atividade neural na rede de mentalização (DMPFC, MPFC, precuneus/PCC) durante a codificação de informações sociais. Observou-se que um status social mais baixo previa maior atividade neural nessa rede. Ou seja, indivíduos de status mais baixo podem focar espontaneamente mais nos estados mentais dos outros quando confrontados com informações sociais.
O Estudo 2, que envolveu adolescentes, demonstrou que o status socioeconômico (SES), um indicador objetivo de posição global, previa a atividade neural durante o processamento de rostos ameaçadores. Indivíduos com menor status social exibiram maior atividade no DMPFC, associado à mentalização, e na amígdala, ligada ao processamento de emoções/saliência. Esse resultado é consistente com pesquisas anteriores que mostram uma associação entre status social mais baixo e maior atividade da amígdala durante o processamento de rostos raivosos.
A consistência dos resultados em ambos os estudos é notável, considerando as diferentes medidas de status social (subjetiva vs. objetiva), diferentes tarefas (codificação de informações sociais vs. processamento de ameaças) e diferentes amostras (adultos vs. adolescentes). Esses achados sugerem que o status social está fundamental e neurocognitivamente ligado à forma como as pessoas processam e navegam em seus mundos sociais.
Uma possível explicação para essa relação é a dependência. Indivíduos de status mais baixo, com menos recursos materiais e sociais, precisam confiar mais nos outros para suprir suas necessidades. Essa maior dependência pode motivá-los a compreender os pensamentos, sentimentos e comportamentos alheios, levando a uma maior atividade neural associada a esses tipos de cognições.
Embora a capacidade de compreender os pensamentos e sentimentos dos outros esteja relacionada a resultados positivos, como menor agressão e diminuição do estereótipo, a atividade em regiões neurais associadas à mentalização também pode ter um lado negativo. Por exemplo, a atividade no DMPFC durante a rejeição social ou estresse está associada a maiores respostas de cortisol ao estresse e a maior pressão arterial. Isso sugere que a mentalização pode não ser um fenômeno universalmente positivo, e pensar nos outros, especialmente em condições de estresse ou ameaça, pode ter consequências negativas.
As diferenças observadas na ativação de regiões cerebrais entre os dois estudos (por exemplo, MPFC e precuneus/PCC ativados no Estudo 1, mas não no Estudo 2) podem ser atribuídas às diferentes tarefas empregadas e à população estudada. O DMPFC pode representar o núcleo central da rede de mentalização, com outras regiões sendo recrutadas diferencialmente dependendo das demandas da tarefa e da população.
Em suma, as pesquisas apresentadas indicam que indivíduos com menor status social são mais propensos a engajar circuitos neurais envolvidos na mentalização. Essa compreensão dos mecanismos neurais pelos quais o status social influencia a cognição e o comportamento social pode fornecer insights cruciais sobre a relação entre status social, saúde e bem-estar, além de sugerir maneiras de melhorar o bem-estar psicológico e físico daqueles que se encontram em posições mais baixas na hierarquia social.
Referência:
Muscatell, K. A., Morelli, S. A., Falk, E. B., Way, B. M., Pfeifer, J. H., Galinsky, A. D., Lieberman, M. D., Dapretto, M., & Eisenberger, N. I. (2012). Social status modulates neural activity in the mentalizing network.
Neuroimage, 60(3), 1771–1777. https://doi.org/10.1016/j.neuroimage.2012.01.080