Sintomas Depressivos na Juventude e Prognóstico na Idade Adulta Jovem: Uma Perspectiva Longitudinal

A depressão é um dos principais fatores contribuintes para a carga global de doenças , sendo um tema de relevância clínica e de saúde pública. O momento do início e a persistência dos sintomas depressivos podem estar diferencialmente associados a resultados de longo prazo na saúde mental e psicossocial. Com o objetivo de esclarecer se os sintomas depressivos experimentados durante a infância e a adolescência estão independentemente associados a resultados prejudicados na idade adulta jovem, foi conduzido um estudo de coorte longitudinal e prospectivo.

Metodologia e Principais Descobertas

O estudo utilizou dados da Quebec Longitudinal Study of Child Development (QLSCD), uma coorte de nascimento canadense representativa da população. Os sintomas depressivos foram avaliados em três períodos de desenvolvimento:

Primeira Infância (1,5 a 6 anos): Relatos maternos.

Média Infância (7 a 12 anos): Relatos de professores.

Adolescência (13 a 17 anos): Auto-relato dos participantes.

Os principais resultados avaliados na idade adulta jovem (20 e 21 anos) incluíram sintomas depressivos (desfecho primário) e indicadores de funcionamento psicossocial (desfechos secundários), ajustados para fatores de risco iniciais avaliados aos 5 meses de idade.

Os achados, ajustados para fatores de risco iniciais e testes múltiplos, indicaram associações significativas:

Sintomas Depressivos na Idade Adulta Jovem (20 anos): Apenas os sintomas depressivos na adolescência estiveram associados a níveis mais elevados de sintomas depressivos na idade adulta jovem.

Estresse Percebido (21 anos): Os sintomas depressivos na adolescência também foram associados a níveis mais elevados de estresse percebido.

Suporte Social (21 anos): Tanto os sintomas depressivos na média infância quanto na adolescência estiveram associados a níveis mais baixos de suporte social.

É digno de nota que os sintomas depressivos em qualquer período do desenvolvimento não foram associados ao consumo excessivo de álcool (binge drinking), à condição de não estar empregado, em educação ou formação (NEET), ou a experimentar assédio online.

Implicações e Limitações

Os resultados sugerem que os sintomas depressivos na adolescência estão associados a uma gama mais ampla de desfechos negativos na idade adulta jovem (sintomas depressivos, estresse percebido e suporte social) em comparação com os sintomas na infância (apenas suporte social). A associação entre sintomas depressivos na adolescência e estresse percebido pode ser explicada pelo desenvolvimento de vulnerabilidades cognitivas ou pela perceção de eventos como mais estressantes, embora fatores estruturais e sociais também possam ter contribuído.

Este estudo de coorte ressalta a importância da triagem e monitorização de crianças e adolescentes com sintomas depressivos, o que pode mitigar os sintomas de depressão e prevenir o comprometimento do funcionamento psicossocial na idade adulta jovem. Além disso, sugere-se que as intervenções de saúde mental que incluem componentes interpessoais/sociais podem beneficiar o funcionamento psicossocial futuro.

Uma limitação importante é que os sintomas depressivos foram relatados por diferentes informantes (mães e professores na infância; auto-relato na adolescência e idade adulta), o que pode ter introduzido vieses de rater e diferenças de medição, potencialmente afetando a comparação direta entre os períodos.

Referência:

PSYCHOGIOU, Lamprini et al. Childhood and Adolescent Depression Symptoms and Young Adult Mental Health and Psychosocial Outcomes. JAMA Network Open, Chicago, v. 7, n. 8, p. e2425987, 8 ago. 2024. DOI: 10.1001/jamanetworkopen.2024.25987.

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