O Narcisismo no Nível Executivo e seu Impacto nas Equipes de Alta Gestão

A pesquisa em liderança estratégica tem destacado as implicações do narcisismo em CEOs para os resultados corporativos. O narcisismo é tipicamente descrito como a tendência de um indivíduo a ter “um senso grandioso, mas frágil, de si mesmo e de direito, bem como uma preocupação com o sucesso e demandas por admiração”. As consequências do narcisismo do CEO já foram ligadas a uma variedade de resultados, incluindo desempenho da empresa, inovações, remuneração executiva e até conduta antiética. Contudo, há uma lacuna na literatura sobre como o narcisismo dos líderes e de outros membros da equipe de alta gestão (TMT) afeta a interface entre o CEO e a TMT, especialmente em relação à composição da equipe. Um estudo recente aborda essa lacuna, examinando a relação entre o narcisismo do CEO e a composição da TMT, incluindo o narcisismo de novos membros e a rotatividade.

Para investigar o tema, foi desenvolvida uma nova medida de narcisismo executivo baseada em perfis do LinkedIn. Essa medida é calculada a partir de cinco indicadores: o número de fotos do executivo, a contagem de palavras da seção “Sobre”, o número de experiências profissionais listadas, o número de habilidades e o número de credenciais. A validação desta nova medida mostrou uma correlação significativa com medidas de narcisismo de CEO já estabelecidas.

A pesquisa apresenta várias descobertas importantes. Primeiramente, o estudo confirmou que o narcisismo do CEO está positivamente associado ao narcisismo de novos membros da TMT. Isso apoia a teoria da atração por similaridade, que sugere que indivíduos se sentem atraídos por outros com características semelhantes. Narcisistas tendem a causar uma boa primeira impressão, sendo percebidos como carismáticos e competentes, o que pode instigar uma atração mútua durante o processo de contratação.

Em segundo lugar, a pesquisa mostra uma associação positiva e significativa entre o narcisismo do CEO e a rotatividade da TMT. CEOs com maior narcisismo podem usar demissões como uma forma de demonstrar dominância, um valor importante para eles. Além disso, membros da TMT podem sair voluntariamente por insatisfação com a liderança, uma vez que a atração inicial por um líder narcisista pode diminuir rapidamente com o tempo.

Por fim, o estudo revela que o narcisismo da TMT modera o efeito do narcisismo do CEO na rotatividade. Em TMTs com baixo narcisismo, o efeito do narcisismo do CEO é dominante e leva a uma maior rotatividade. No entanto, em TMTs com alto narcisismo, o narcisismo do CEO não está associado à rotatividade. Essa descoberta inesperada sugere que a alta rotatividade é consistentemente elevada em TMTs com alto nível de narcisismo, independentemente do nível de narcisismo do CEO.

Esses resultados têm implicações tanto teóricas quanto práticas. Eles aprofundam a compreensão da dinâmica social na interface CEO-TMT e fornecem uma nova ferramenta metodológica para medir o narcisismo de executivos de forma não intrusiva. No plano prático, os achados podem auxiliar conselhos de administração e CEOs na tomada de decisões de contratação para a TMT, considerando as estratégias e os resultados de desempenho desejados.

Referência:

Junge, S., Graf-Vlachy, L., Hagen, M., & Schlichte, F. (2025). Narcissism at the CEO-TMT Interface: Measuring Executive Narcissism and Testing Its Effects on TMT Composition. Journal of Management, 51(5), 1765-1802. https://doi.org/10.1177/01492063241226904

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