A depressão é um transtorno mental prevalente em crianças e adolescentes, com uma taxa global de aproximadamente 33%, impactando negativamente a saúde física e mental, além do desempenho acadêmico dessa população. Inicialmente vista como um desafio predominantemente adulto, a depressão tornou-se uma preocupação crítica em todas as faixas etárias, incluindo a infância e a adolescência. As consequências da depressão nessa fase da vida são graves e multifacetadas, abrangendo dificuldades no rendimento escolar, problemas de concentração e motivação , e um impacto prejudicial na interação social com pares e familiares, podendo levar ao isolamento e à solidão. Alarmantemente, a taxa de suicídio em adolescentes deprimidos atinge 1,81 vezes a média da população adolescente geral, sublinhando a urgência de abordagens estratégicas de prevenção e intervenção.
Para compreender o panorama da pesquisa no campo, foi realizada uma análise bibliométrica dos 100 artigos mais citados (T100) sobre depressão em crianças e adolescentes, publicados entre 1981 e 2021. Essa análise revelou que os artigos T100 receberam entre 423 e 3949 citações, com o artigo mais citado sendo o “The Children’s Depression Inventory (CDI)” (1985) de M. Kovacs, um estudo fundamental no desenvolvimento de escalas de avaliação8888. A maioria dos artigos T100 teve origem nos Estados Unidos, que liderou a produção com 79 artigos. A JAMA Psychiatry foi o periódico com o maior número de publicações T100 $(n=17)$ e o maior total de citações.
A análise de co-ocorrência de palavras-chave revelou seis focos de pesquisa primários:
Patogênese da Depressão: Abordando determinantes ambientais, atributos temperamentais e de personalidade, e escalas de screening.
Tratamento do Transtorno Depressivo Maior (TDM) em Crianças: Priorizando a avaliação e intervenções farmacoterapêuticas, notadamente com escitalopram.
Tratamento na Primeira Infância: Examinando a eficácia de tratamentos para transtornos depressivos em idades precoces.
Manifestações da Depressão Adolescente: Lidando com o espectro de manifestações afetivas e comportamentais da depressão em adolescentes.
Gênero e Depressão: Explorando as manifestações específicas de gênero na depressão em crianças e adolescentes.
Considerações na Atenção Primária: Referente à importância da atenção primária no diagnóstico e manejo da depressão nesse grupo etário.
As tendências atuais sugerem uma evolução do foco de pesquisa, inicialmente em Epidemiologia e Validação de Escalas, para uma exploração mais aprofundada da Patogênese da depressão.
Conclusões e Direções Futuras
Apesar do forte enfoque em Patogênese, Escalas/Medidas e Epidemiologia, com a Patogênese sendo identificada como uma tendência futura , a pesquisa demonstrou uma lacuna notável no foco em prevenção. Apenas dois dos artigos T100 focaram especificamente na prevenção.
Os resultados sublinham a importância da cooperação internacional e revelam a necessidade premente de priorizar e reforçar a pesquisa preventiva, em particular o desenvolvimento e aprimoramento de programas de rastreio e intervenção precoce. Para enfrentar eficazmente a depressão infanto-juvenil, recomenda-se que os esforços futuros se concentrem em:
Aperfeiçoar mecanismos de identificação precoce e desenvolver ferramentas de screening mais sensíveis.
Desenvolver e implementar intervenções precoces eficazes, sensíveis às diferenças de gênero e idade, que são cruciais, pois os sintomas depressivos podem manifestar-se de formas distintas em meninos, meninas e em diferentes idades.
Melhorar a eficácia da atenção primária através de formação e recursos para providers.
Em suma, a pesquisa mais citada sobre depressão em crianças e adolescentes é dominada pelos Estados Unidos e aborda predominantemente a medição e as causas, mas sinaliza uma necessidade urgente de transicionar o foco para estratégias de prevenção e intervenção precoce, adaptadas às particularidades demográficas.
Referência:
MEI, Fuyu; WANG, Zhidan. Trends in Mental Health: A Review of the Most Influential Research on Depression in Children and Adolescents. Annals of General Psychiatry, v. 23, n. 36, 2024.