Mídias Sociais e Saúde Mental: Uma Análise Científica de Benefícios, Riscos e Oportunidades no Cenário Digital Contemporâneo

A ubiquidade das mídias sociais na sociedade contemporânea, definidas como plataformas web e móveis que permitem a conexão e o intercâmbio de conteúdo digital (informação, mensagens, fotos, vídeos), posiciona-as como um fator ambiental de alta relevância para a saúde mental. Estudos epidemiológicos indicam que a utilização dessas plataformas por indivíduos com diversos transtornos mentais (incluindo depressão e transtornos psicóticos) ocorre em taxas comparáveis à população geral, atingindo até 97% na faixa etária mais jovem. Esta penetração exige uma avaliação crítica e sistemática dos seus efeitos bidirecionais sobre o bem-estar psicológico.

Potenciais Benefícios no Contexto Clínico

Do ponto de vista clínico e social, as mídias sociais oferecem benefícios substantivos. Elas facilitam a conexão social e o suporte de pares (peer support), mitigando o isolamento social frequentemente associado a quadros de doença mental. Adicionalmente, servem como canais de acesso a informações de saúde e recursos educacionais sobre saúde mental e serviços relacionados. Outra vantagem reside no potencial para redução do estigma (auto-estigma e estigma público), através do compartilhamento de experiências pessoais, promovendo a identificação e a normalização da condição.

Riscos Psicossociais e Comportamentais

Não obstante os benefícios, a utilização das mídias sociais está intrinsecamente ligada a riscos que comprometem o bem-estar psicológico. Em adolescentes, o uso excessivo tem sido associado a uma prevalência aumentada de qualidade de sono deficiente, ansiedade, depressão e baixa autoestima. A exposição constante a representações “idealizadas” da vida e da imagem corporal (curadoria de conteúdo) fomenta a comparação social, um processo que pode levar a um impacto negativo na autoestima e no desenvolvimento de problemas de imagem corporal. Adicionalmente, a vulnerabilidade a cyberbullying e assédio online constitui um risco significativo que pode exacerbar patologias mentais preexistentes.

Oportunidades para Pesquisa e Intervenção

A interseção entre mídias sociais e saúde mental abre novas avenidas para a prática clínica e a pesquisa. Na prática, as plataformas podem ser empregadas para a entrega de intervenções psicológicas e o suporte direto a pacientes. No campo da pesquisa, a vasta quantidade de dados gerados pelos usuários (postagens, interações, estrutura de rede) permite o fenotipagem digital (digital phenotyping), uma metodologia que usa dados passivos e ativos de smartphones para monitorar o estado mental dos indivíduos. Contudo, a utilização de dados de mídias sociais para fins de investigação impõe desafios éticos substanciais relacionados à privacidade, ao consentimento informado e à segurança dos dados.

Em suma, as mídias sociais representam um instrumento de dupla face para a saúde mental. Embora seu potencial para suporte, conexão e intervenção seja inegável, os riscos associados à comparação social e à má qualidade do sono exigem uma avaliação e moderação criteriosa do seu uso. A pesquisa futura e a prática clínica devem capitalizar as oportunidades de monitoramento em tempo real e intervenção personalizada oferecidas pelas mídias sociais, ao mesmo tempo em que abordam e mitigam ativamente os desafios éticos e os riscos psicossociais inerentes a este ambiente digital.

Referência:

NASLUND, John A. et al. Social Media and Mental Health: Benefits, Risks, and Opportunities for Research and Practice. Journal of Technology in Behavioral Science, [S.l.], v. 5, n. 4, p. 245-257, 20 abr. 2020. DOI: 10.1007/s41347-020-00134-x.

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