Os maus-tratos infantis são uma preocupação de saúde pública com consequências bem estabelecidas, mas o impacto a longo prazo dos maus-tratos emocionais na saúde mental ainda não é completamente compreendido. Uma pesquisa analisou a associação entre maus-tratos emocionais e o diagnóstico de diversos transtornos mentais em uma amostra representativa da população adulta dos Estados Unidos. O estudo utilizou dados da Pesquisa Epidemiológica Nacional sobre Álcool e Condições Relacionadas (NESARC), coletados em 2004 e 2005, com 34.653 adultos.
Os resultados mostraram que 14,1% da população adulta dos EUA relatou ter sofrido maus-tratos emocionais antes dos 18 anos. As formas mais comuns foram a negligência emocional (6,2%) e o abuso emocional (4,8%). O estudo encontrou uma forte relação entre todas as categorias de maus-tratos emocionais e a ocorrência de outras formas de maus-tratos infantis, como punição física severa, abuso físico, abuso sexual e negligência física.
Em modelos que ajustaram para características sociodemográficas, todas as categorias de maus-tratos emocionais foram associadas a um aumento na probabilidade de quase todos os transtornos mentais avaliados, incluindo transtornos do Eixo I (como depressão maior, transtornos de ansiedade e de uso de substâncias) e do Eixo II (transtornos de personalidade). No entanto, os efeitos foram mais acentuados para o abuso emocional do que para a negligência emocional. O abuso emocional esteve associado a uma gama mais ampla de transtornos mentais, sugerindo um impacto mais difuso, enquanto a negligência emocional mostrou relações com transtornos que envolvem retração social e dificuldades em relacionamentos interpessoais. Os autores especulam que o abuso emocional é particularmente prejudicial porque a criança recebe cognições negativas diretamente (“você é inútil”), enquanto na negligência emocional ela precisa fazer suas próprias atribuições, que também podem ser negativas.
A pesquisa também concluiu que não há diferenças significativas nos efeitos dos maus-tratos emocionais entre homens e mulheres. Os resultados reforçam a necessidade de considerar os maus-tratos emocionais, em suas diversas formas, como um fator de risco sério para a saúde mental a longo prazo.
Referência:
TAILLIEU, T. L. et al. Childhood emotional maltreatment and mental disorders: Results from a nationally representative adult sample from the United States. Child Abuse & Neglect, v. 59, p. 1–12, 2016.