A genética humana é um campo em constante evolução. Nos últimos dez anos, a natureza de muitos traços humanos foi revelada como sendo altamente poligênica, com milhares de variantes genéticas de pequeno efeito influenciando características como altura e habilidades cognitivas. Este artigo explora as evidências de seleção divergente nessas duas características, utilizando tanto a distância genética (FST) quanto os escores poligênicos (PGS), e investiga a correlação dessas variantes com fatores ambientais como a latitude.
Os escores poligênicos (PGS) para altura e escolaridade (EA), um substituto comum para a habilidade cognitiva, foram calculados e mostraram uma forte correlação com a altura e o QI médios das populações, com um r de aproximadamente 0,9. A análise dos dados revelou que as populações do norte da Europa (Finns, Orcadians) apresentaram os maiores escores para altura, enquanto os nativos americanos e do sudeste asiático tiveram os mais baixos. Da mesma forma, os maiores escores de EA foram encontrados em populações do leste asiático e europeus, e os menores em latino-americanos e africanos. Essas diferenças nos escores poligênicos entre as populações foram consideradas uma indicação de pressões de seleção direcional.
Um dos achados mais interessantes do estudo é a correlação entre os escores poligênicos de EA e a latitude. Uma correlação moderadamente forte de r=0.67 foi encontrada, o que sugere um efeito do clima (sazonalidade ou temperatura do inverno) na seleção para a habilidade cognitiva. Essa correlação foi considerada estatisticamente significativa e robusta mesmo após a inclusão de variáveis de sub-continentes no modelo de regressão. Em contrapartida, a altura apresentou uma correlação muito mais fraca com a latitude (r=0.3), o que contraria a regra de Bergmann, que prevê a seleção de animais maiores em climas frios.
O estudo também utilizou o índice de diferenciação populacional, o FST, para investigar a seleção divergente. A análise revelou que os loci genéticos associados à altura e à EA se diferenciam significativamente de SNPs aleatórios, reforçando a ideia de que a seleção natural atuou sobre esses traços. O artigo argumenta que os escores poligênicos são mais sensíveis à seleção direcional do que o FST, uma vez que os PGS levam em conta a direção do efeito de cada alelo, enquanto o FST é uma medida não-direcional, que pode ser influenciada mais pela deriva genética do que pela seleção. Essa sensibilidade dos escores poligênicos à direção da seleção é considerada uma vantagem para identificar sinais de adaptação.
Em conclusão, os resultados sugerem que tanto a altura quanto a escolaridade, um substituto para a habilidade cognitiva, estiveram sob pressões de seleção divergente com diferentes intensidades entre as populações. A forte correlação entre os escores poligênicos de escolaridade e a latitude aponta para o papel de fatores climáticos na adaptação, especificamente para a habilidade cognitiva. Esses achados, validados em diferentes bancos de dados genéticos, contribuem para o entendimento da arquitetura genética de traços humanos complexos e fornecem um caminho para futuras pesquisas sobre seleção poligênica em larga escala.
Referência:
Piffer, D. (2021). Divergent selection on height and cognitive ability: evidence from both genetic distance (Fst) and polygenic scores. OpenPsych. doi: 10.26775/OP.2021.04.03.

