O Transtorno Depressivo Maior (TDM) é caracterizado por um curso complexo, com episódios agudos intermitentes de variada severidade e frequência. A adolescência é um período em que o risco de depressão aumenta significativamente e os prejuízos funcionais com potencial impacto a longo prazo, como a falha em alcançar marcos acadêmicos, começam a se manifestar.
Incidência e Diferenças de Sexo
Um estudo que analisou dados de seis anos consecutivos (2009–2014) de um inquérito nacional dos EUA com adolescentes de 12 a 17 anos (N=101.685$) empregou uma metodologia que mitigou o viés de sub-relato comum em estudos retrospectivos de incidência. A incidência de depressão (primeiro episódio ao longo da vida, com início recente, definido como no ano anterior à entrevista 4) revelou-se substancialmente mais alta do que a sugerida por estudos anteriores baseados em relatos retrospectivos.
As projeções da incidência cumulativa da depressão entre as idades de 12 e 17 anos foram de 13,6% para o sexo masculino e 36,1% para o sexo feminino.
A diferença de sexo na incidência de depressão:
É significativa já aos 12 anos de idade (5,7% nas adolescentes versus 2,0% nos adolescentes.
É significativamente maior nas idades de 13 a 17 anos do que aos 12 anos.
Atinge o seu pico de diferença aos 15 anos, com uma incidência de 13,2% para o sexo feminino versus 4,4% para o sexo masculino.
Em termos relativos, as adolescentes têm 2,8 vezes mais probabilidade de desenvolver depressão do que os adolescentes aos 12 anos e entre 3,1 e 4,0 vezes mais probabilidade nas idades de 13 a 16 anos.
Estes resultados sugerem que a diferença de sexo na depressão se origina antes da adolescência e aumenta em magnitude durante esta fase.
Prejuízo Funcional e Relações Clínicas
O estudo comparou casos de início recente (recent first-onset) com casos de depressão persistente (prevalente, com início anterior) em relação ao prejuízo funcional, tentativas de suicídio, problemas de conduta e desempenho acadêmico.
Prejuízo e Tentativas de Suicídio: O prejuízo relacionado à depressão é inferior no TDM de início recente em comparação com o TDM persistente, mas apenas no sexo feminino. No sexo feminino, os casos persistentes apresentaram níveis significativamente mais altos de prejuízo em todos os quatro domínios (tarefas domésticas, escola/trabalho, relações familiares e vida social) e taxas mais altas de tentativas de suicídio do que os casos de início recente. No sexo masculino, não houve diferença significativa na prevalência de tentativas de suicídio.
Problemas de Conduta e Desempenho Acadêmico: A prevalência de problemas de conduta e de mau funcionamento acadêmico é mais alta nos grupos com depressão (início recente e persistente) do que no grupo sem depressão para ambos os sexos. Tal como no prejuízo, a prevalência de problemas de conduta é mais alta no TDM persistente do que no TDM de início recente apenas no sexo feminino.
Implicações Clínicas
A magnitude do prejuízo, das tentativas de suicídio, dos problemas de conduta e do mau funcionamento acadêmico, mesmo nos casos de início recente, é alta. Por exemplo, a prevalência de tentativa de suicídio no ano anterior foi superior a 15% nos casos de depressão de início recente em ambos os sexos.
Isto sugere que não é aconselhável adotar uma abordagem clínica de “esperar para ver” (wait and see) para o tratamento do TDM de início recente. As diferenças entre os casos persistentes e os de início recente são pequenas em comparação com as diferenças entre ambos os grupos e o grupo sem depressão.
Referência:
BRESLAU, J. et al. Sex differences in recent first-onset depression in an epidemiological sample of adolescents. Translational Psychiatry, [S.l.], v. 7, n. 5, p. e1139, 30 maio 2017. DOI: 10.1038/tp.2017.105.

