A relação entre inteligência e cognição tem sido objeto de estudo por pesquisadores em todo o mundo, especialmente quando se observam discrepâncias entre um alto nível de inteligência e uma baixa capacidade cognitiva em áreas específicas. Enquanto a inteligência é definida como a capacidade geral de compreender e resolver problemas, envolvendo o pensamento abstrato, adaptação a novas situações, aprendizado pela experiência e uso eficaz de recursos cognitivos, a cognição abrange todos os processos mentais e atividades relacionadas à aquisição, processamento, armazenamento e uso de informações, incluindo percepção, atenção, memória, linguagem, raciocínio, solução de problemas e tomada de decisões. A presente análise busca explorar a teoria da inteligência limítrofe à doença cognitiva, que propõe que a inteligência de indivíduos com alto QI pode atingir um “ponto limite” onde, se excedido, pode resultar em problemas cognitivos.
Diversos estudos apontam para a complexidade dessa relação. Por exemplo, indivíduos podem apresentar alta inteligência em tarefas de raciocínio lógico abstrato, mas baixas habilidades sociais. Em contrapartida, há casos de pessoas com QI relativamente baixo que demonstram habilidades cognitivas notáveis em áreas específicas, como habilidades artísticas e musicais. A pesquisa bibliográfica realizada para este estudo sugere que tais discrepâncias entre alta inteligência e baixa capacidade cognitiva social podem estar relacionadas a distúrbios no córtex pré-frontal ventromedial.
O Quociente de Inteligência (QI) é uma medida numérica que avalia a capacidade cognitiva geral de uma pessoa em relação à média da população, sendo calculado por meio de testes padronizados que avaliam habilidades lógicas, verbais, memória e resolução de problemas. No entanto, é crucial entender que o QI não é uma medida completa de todas as formas de inteligência, não abrangendo, por exemplo, inteligência emocional, criatividade e habilidades sociais. Apesar disso, alguns autores, como Rodrigues (2022), defendem que o QI pode ser um precursor e propulsor da inteligência como um todo, influenciando o desenvolvimento de outras inteligências, considerando as nuances cognitivas e as condições mentais. Corroborando essa perspectiva, estudos de neuroimagem, avaliação de personalidade e testes genéticos têm demonstrado a equivalência dos resultados dos testes de QI com esses outros métodos, indicando que o QI pode ser uma medida eficaz da inteligência, correlacionando-se com resultados acadêmicos, sociais e econômicos.
A neuroplasticidade cerebral, a capacidade do cérebro de se adaptar e mudar em resposta à experiência, aprendizagem e outros estímulos, desempenha um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo e na capacidade de aprendizagem ao longo da vida. Desafios e atividades cognitivamente exigentes são importantes para promover essa neuroplasticidade e o desenvolvimento cognitivo, especialmente no córtex pré-frontal, que é crucial para a inteligência lógica e o desenvolvimento cognitivo. A inteligência e a cognição são influenciadas por diversos fatores, incluindo ambiente cultural e educacional, saúde mental e física, e genética. Distúrbios como o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o autismo também podem levar a uma alta inteligência acompanhada de baixa capacidade cognitiva em certas áreas, reforçando a distinção entre inteligência e capacidade cognitiva.
A teoria da inteligência limítrofe à doença cognitiva sugere que a inteligência, em especial o alto QI, pode ter um “ponto limite” além do qual a cognição pode ser comprometida. Observa-se, por exemplo, que pessoas com autismo de nível moderado podem ter problemas cognitivos sociais, mas uma lógica matemática notável. A Síndrome de Asperger, muitas vezes associada a QI médio a alto, também apresenta um padrão comportamental que sugere uma correlação entre inteligência e autismo. Estudos indicam que genes associados à alta inteligência também podem ter alta predisposição para autismo e bipolaridade, e baixa predisposição para Alzheimer e esquizofrenia. No entanto, a própria inteligência pode funcionar como um mecanismo de manobra, minimizando ou corrigindo problemas cognitivos.
A neuroanatomia revela que diversas estruturas cerebrais são essenciais para o controle das condutas sociais. O córtex pré-frontal ventromedial, por exemplo, está envolvido no julgamento, tomada de decisão, controle emocional, empatia e cognição social. Danos a essa região podem resultar em falhas no uso de sinais somáticos ou emocionais para controlar o comportamento, levando a ações impulsivas e à incapacidade de antecipar consequências. A amígdala e o córtex somatossensorial direito, juntamente com a ínsula, também são cruciais na interpretação de expressões emocionais e na cognição social.
Em suma, a inteligência e a cognição são conceitos complexos e interconectados, influenciados por uma miríade de fatores genéticos, ambientais e neurológicos. A teoria da inteligência limítrofe à doença cognitiva levanta questões importantes sobre os limites da inteligência e sua relação com possíveis problemas cognitivos, sugerindo a necessidade de mais pesquisas para a comprovação dessa ligação direta. Compreender essas interações é fundamental para aprofundar o conhecimento sobre o comportamento humano e o funcionamento cerebral.
Referência:
Rodrigues, F. de A. A. (2025). Cognição e inteligência: a teoria sobre a inteligência limítrofe à doença cognitiva. I+D Internacional – Revista Científica y Académica, 4(1), 104-119. https://doi.org/10.63636/3078-1639.v4.nl.31