A depressão sublimiar (DS), também referida como depressão subsindrômica, subclínica ou menor, representa um desafio significativo na saúde mental de adolescentes, caracterizando-se por sintomas depressivos clinicamente relevantes que não atendem aos critérios diagnósticos completos para o transtorno depressivo maior (TDM) ou transtorno distímico. Embora menos grave que o TDM, a DS em adolescentes está associada a alta comorbidade, comprometimento funcional, recorrência de sintomas e um risco elevado de evoluir para TDM ou outras condições psiquiátricas, como transtornos de ansiedade e alimentares. Consequentemente, a DS é considerada um problema de saúde importante nessa faixa etária.
Prevalência e Características Clínicas Diferenciadas por Gênero
Um estudo recente realizado em uma amostra de adolescentes no Chile revelou uma alta prevalência pontual de episódio depressivo sublimiar (EDS) de 16,5%, sendo significativamente mais frequente em meninas (19,8%) do que em meninos (13,2%). Essa diferença de prevalência por gênero no EDS está alinhada com resultados de outras pesquisas internacionais e reflete uma tendência observada nas diferenças de gênero associadas ao diagnóstico e sintomas de depressão que geralmente emergem no início da adolescência.
Em termos de características clínicas, o EDS também apresentou diferenças notáveis por gênero. Adolescentes do sexo feminino com EDS relataram maior frequência de humor depressivo e problemas de sono. Por outro lado, os meninos com EDS exibiram maior anedonia (perda de interesse ou prazer), além de mais problemas de concentração e retardo/agitação psicomotora. Tais descobertas ressaltam que, embora o padrão de sintomas varie entre estudos e culturas, existem diferenças de gênero no padrão sintomático da depressão sublimiar que demandam consideração.
A anedonia se mostrou altamente prevalente em ambos os sexos com EDS (51,0% em meninas e 72,6% em meninos), e sua presença é particularmente preocupante, pois tem sido associada à gravidade da depressão e a um pior prognóstico, incluindo a previsão de um tempo mais longo para a remissão e maior severidade em adolescentes com tentativas de suicídio. Além disso, pensamentos suicidas foram relatados por cerca de 6% dos adolescentes nos grupos sem episódio depressivo (NoDE) e EDS, um problema que aumenta drasticamente para mais de 50% no grupo com episódio depressivo maior (EDM).
Fatores Associados e Implicações para Intervenção
O estudo identificou fatores associados ao EDS que são comuns e outros que são diferenciados por gênero.
Fatores Compartilhados:
Pensamentos Disfuncionais: Um alto nível de pensamentos disfuncionais emergiu como um fator positivamente associado ao EDS em ambos os sexos.
Suporte Social Percebido: O suporte social percebido mostrou-se um fator negativamente associado ao EDS em ambos os gêneros.
Fatores Diferenciados:
Resolução de Problemas Sociais e Regulação Emocional: Essas habilidades demonstraram um impacto diferenciado no EDS dependendo do gênero. Especificamente, as habilidades de resolução de problemas sociais e regulação emocional foram fatores negativamente associados ao EDS em meninas, mas não apresentaram associação estatisticamente significativa no grupo de meninos com EDS.
Essas diferenças nos fatores associados sugerem que as meninas com EDS apresentam um perfil mais similar ao EDM em termos de fatores associados, o que pode ser explicado pelo fato de as meninas terem pontuado pior que os meninos em todos os fatores avaliados.
Lacuna de Tratamento e Recomendações
O estudo também indicou uma baixa utilização de serviços de saúde mental (qualquer tratamento para depressão, psicoterapia atual e farmacoterapia) nos grupos EDS e EDM. No grupo EDS, as meninas relataram maior uso de serviços de saúde do que os meninos. A dificuldade de acesso ao tratamento, especialmente para meninos, destaca uma significativa lacuna de tratamento para sintomas depressivos em adolescentes.
Dada a alta prevalência e o impacto da DS, adolescentes com sintomas sublimiares são considerados um público-alvo ideal para intervenções preventivas e precoces.
Com base nas descobertas de diferenças de gênero, é recomendada uma abordagem informada pelo gênero para as intervenções preventivas e precoces. Intervenções podem visar fatores comuns a ambos os sexos (como pensamentos disfuncionais e suporte social percebido). No entanto, para as meninas com EDS, seria particularmente aconselhável o foco no desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas sociais e regulação emocional. A utilização de modelos de cuidados em etapas e intervenções baseadas na Internet pode ser uma forma pragmática e mais acessível para reduzir a lacuna de tratamento, especialmente em contextos de escassez de recursos.
Referência:
CROCKETT, Marcelo A. et al. Subthreshold depression in adolescence: Gender differences in prevalence, clinical features, and associated factors. Journal of Affective Disorders, v. 272, p. 269-276, 2020.