Desvendando o TDAH: A Complexa Interação entre Neurotransmissores Excitatórios e Fatores Genéticos

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma condição neuropsiquiátrica que afeta crianças e adultos, caracterizada por desatenção, hiperatividade e impulsividade. Sua etiologia é multifatorial, envolvendo fatores genéticos, neuroquímicos e ambientais. Dentre os componentes neuroquímicos, os neurotransmissores excitatórios, como o glutamato e o aspartato, desempenham um papel crucial na modulação da atividade sináptica e na plasticidade neural. Estudos recentes sugerem que disfunções na sinalização glutamatérgica, mediadas por variantes genéticas em genes como SLC1A1 e GRIN2B, podem contribuir significativamente para os sintomas do TDAH.

O glutamato é o neurotransmissor excitatório mais abundante no cérebro, essencial para a potencialização de longo prazo (LTP), mecanismo crucial para a memória e aprendizagem, além de estar envolvido em circuitos de controle motor e processos cognitivos superiores, como atenção e controle executivo. O aspartato, embora menos abundante, atua em conjunto com o glutamato para facilitar a excitação neuronal e é relevante para a plasticidade sináptica. Ambos são encontrados predominantemente em regiões como o córtex pré-frontal, o hipocampo e o estriado, áreas associadas a processos cognitivos e controle motor.

A síntese, liberação e recaptação do glutamato e aspartato são reguladas por diversos genes. O gene SLC1A1, que codifica o transportador EAAT3 responsável pela recaptação do glutamato, e o gene GRIN2B, que codifica subunidades do receptor NMDA, essencial para a transmissão sináptica mediada pelo glutamato, têm sido associados ao TDAH. Variantes nesses genes podem levar a um desequilíbrio na produção, liberação e recaptação desses neurotransmissores, resultando em disfunções sinápticas que se manifestam nos sintomas do TDAH. A “disfunção” na expressão desses genes pode influenciar a gravidade dos sintomas, indicando um espectro de “potência” do TDAH.

A neuroplasticidade, embora seja um mecanismo adaptativo essencial do cérebro, pode tentar compensar essas disfunções ao longo do desenvolvimento. Essa capacidade de adaptação pode atenuar os efeitos adversos das variantes genéticas em alguns indivíduos, por exemplo, desenvolvendo estratégias compensatórias no córtex pré-frontal para mitigar déficits de atenção e controle executivo. No entanto, essa compensação varia e pode ser insuficiente para neutralizar completamente os efeitos das mutações genéticas, resultando em diversas apresentações clínicas do transtorno.

A alimentação desempenha um papel na manutenção dos níveis de neurotransmissores, fornecendo os precursores necessários para a síntese de glutamato e aspartato, que são sintetizados a partir de intermediários do ciclo do ácido cítrico, como o α-cetoglutarato e o oxaloacetato, respectivamente. Alimentos ricos em proteínas, como carnes, laticínios e vegetais como espinafre e tomates, são fontes desses aminoácidos precursores. Contudo, é fundamental ressaltar que, embora uma dieta adequada seja crucial para evitar o agravamento dos sintomas do TDAH, fornecendo os substratos necessários para a síntese de neurotransmissores, ela não é capaz de corrigir as disfunções genéticas subjacentes.

Em conclusão, o TDAH é uma condição complexa que demanda uma abordagem integrada, considerando tanto os fatores genéticos quanto os neuroquímicos. As disfunções na sinalização glutamatérgica, impulsionadas por variantes genéticas nos transportadores e receptores de glutamato, são centrais na manifestação dos sintomas. Estratégias terapêuticas eficazes devem focar na modulação dos circuitos neurais afetados, possivelmente através de intervenções farmacológicas que visem os mecanismos glutamatérgicos e as vias de sinalização associadas, em conjunto com abordagens comportamentais e ambientais que ajudem a mitigar os impactos funcionais do transtorno.

Referência:

Rodrigues, F. de A. A., Silva, A. P. da, Ferreira, R. S., Cunha, L. G. A. da, & Cruz, L. N. (2025). A relação entre os neurotransmissores excitatórios, como o aspartato e o glutamato, e o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). I+D Internacional – Revista Científica y Académica, 4(1), 142–152. https://doi.org/10.63636/3078-1639.v4.n1.34

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