A memória é uma função cognitiva essencial para o aprendizado, a tomada de decisões e o comportamento humano. Este estudo investiga as diferenças nas habilidades de memorização e processamento de informações entre indivíduos com alto Quociente de Inteligência (QI), pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e indivíduos neurotípicos. A pesquisa busca identificar como esses grupos codificam, armazenam e recuperam informações, e como suas características cognitivas e neurobiológicas influenciam esses processos. Adicionalmente, o estudo explora a influência da personalidade na memória de indivíduos neurotípicos, analisando como traços como neuroticismo, extroversão, abertura à experiência e conscienciosidade podem afetar a memorização.
Indivíduos com alto QI frequentemente demonstram habilidades cognitivas superiores, incluindo uma memória mais eficiente e rápida na codificação e recuperação de informações. Eles possuem uma memória de trabalho robusta, crucial para tarefas cognitivas complexas, e uma memória de longo prazo altamente eficaz, utilizando estratégias cognitivas superiores como associações e organização lógica de informações. Estudos revelam que pessoas com alto QI demonstram uma memória visual e espacial notavelmente superior e uma capacidade aprimorada de suprimir interferências durante tarefas de memória de trabalho, o que contribui para um desempenho cognitivo excepcional.
Pessoas autistas com alto QI frequentemente apresentam uma memória de longo prazo extraordinariamente desenvolvida, muitas vezes referida como “hipermnésia”, que lhes permite reter vastas quantidades de informações com precisão notável. Essa capacidade pode estar ligada à intensa concentração em áreas de interesse especial. Eles também exibem habilidades superiores no processamento e memorização de informações visuais, sendo excepcionalmente bons em tarefas que envolvem reconhecimento de padrões, memorização de imagens e detalhes visuais. Alguns indivíduos com TEA e alto QI manifestam habilidades savant, particularmente em áreas como música e matemática, demonstrando capacidades extraordinárias que são desproporcionais ao seu nível geral de funcionamento intelectual. No entanto, esses indivíduos podem enfrentar desafios com a memória verbal, que afetam a comunicação e o aprendizado em ambientes que dependem fortemente de instruções orais.
Indivíduos autistas sem alto QI também exibem diferenças significativas na memória, com habilidades específicas em memória de longo prazo e memória visual, mas enfrentam desafios substanciais com a memória de trabalho e verbal. Para mitigar essas dificuldades, estratégias como o uso de recursos visuais, rotinas estruturadas e técnicas de reforço positivo são essenciais.
A personalidade exerce uma influência crucial na memória em indivíduos neurotípicos. O neuroticismo, caracterizado por emoções negativas, pode levar a uma lembrança mais vívida de eventos negativos, devido à ativação do sistema límbico. A extroversão, associada à sociabilidade, tende a resultar em uma memória social mais eficaz, com melhor recordação de nomes e rostos. A abertura à experiência favorece o uso de métodos criativos e associativos para a memorização, impulsionada pela curiosidade intelectual. A conscienciosidade, ligada à autodisciplina e organização, facilita a memorização a longo prazo através de uma organização eficaz dos materiais e cronogramas de revisão. Introvertidos, por sua vez, tendem a se concentrar melhor em tarefas individuais, o que favorece a memorização profunda e a criação de conexões duradouras.
A Síndrome de Savant, mais incidente em pessoas com TEA, destaca a plasticidade neural e a especialização cognitiva. Exemplos como Kim Peek, Stephen Wiltshire e Daniel Tammet ilustram a diversidade e a complexidade dessas habilidades extraordinárias. Reconhecer e apoiar essas habilidades é essencial para o desenvolvimento pessoal e a contribuição social desses indivíduos. A análise comparativa das capacidades cognitivas em diferentes perfis intelectuais e traços de personalidade ressalta a importância de abordagens terapêuticas mais eficazes e personalizadas para beneficiar uma gama mais ampla de indivíduos com diversas necessidades cognitivas.
Referência:
Yahya, I. H. B. Y. I., Teixeira, X. C. da S. F., & Rodrigues, F. de A. A. (2025). Habilidades de Memorização e Processamento de Informações em Indivíduos com Alto QI, Pessoas com TEA e Neurotípicos: Uma Análise Comparativa. Ciencia Latina Revista Científica Multidisciplinar, 9(1), 9026–9048. https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v9i1.16526

