Desvendando as Disparidades de Gênero na Depressão: Uma Perspectiva Biológica

A depressão maior é uma doença crônica de alta prevalência e um dos principais componentes da carga global de doenças. Globalmente, a prevalência anual de depressão em 2010 era de 5,5% em mulheres e 3,2% em homens, o que representa uma incidência 1,7 vezes maior em mulheres. Essa disparidade de gênero, que se mantém em países desenvolvidos e em nível global, sugere que as diferenças biológicas entre os sexos podem ser o principal fator de risco, com menor dependência de fatores sociais e econômicos.

A correlação entre a maior prevalência de depressão e as mudanças hormonais em mulheres, especialmente durante a puberdade, antes da menstruação, após a gravidez e na perimenopausa, aponta para as flutuações hormonais como um possível gatilho para a doença. Estudos com primatas e roedores consistentemente implicam um papel para hormônios femininos, como o estrogênio, na depressão. A pesquisa em macacos fêmeas, por exemplo, demonstrou que fêmeas subordinadas com fenótipo depressivo tinham níveis reduzidos de receptores de serotonina 1A (5-HT1A) e menor volume hipocampal. Curiosamente, o risco de depressão parece aumentar durante a transição perimenopausa, e a terapia de reposição hormonal pode ser eficaz na prevenção da depressão pós-menopausa. Além disso, estudos sugerem que o estrogênio pode ter um efeito protetor contra a patologia subjacente à depressão, e sua diminuição pode aumentar o risco.

A questão de por que os homens, que não possuem estrogênio sistêmico, apresentam taxas mais baixas de depressão é complexa. A pesquisa tem mostrado que, no cérebro masculino, a testosterona é convertida em estrogênio pela enzima aromatase (CYP19). O estrogênio pode mediar ações protetoras por meio de receptores de estrogênio, especialmente o receptor beta, que são expressos em todo o cérebro masculino. A ausência de ciclos hormonais como os das mulheres confere aos homens uma proteção mais consistente. No entanto, a menor prevalência de depressão em homens é provavelmente mais complexa e se deve não apenas a diferenças hormonais, mas também a diferenças no desenvolvimento da circuitaria cerebral.

A diferença fundamental nas taxas de depressão entre os sexos reflete a diferença genética: as mulheres têm duas cópias do cromossomo X, enquanto os homens têm uma cópia de X e uma de Y. Embora os fatores de risco impulsionados pela sociedade possam ter uma origem biológica, como diferenças em traços de personalidade e força física, a promoção da igualdade social no Ocidente não resultou em uma mudança clara na proporção de depressão entre mulheres e homens. A identificação de ligantes que visam mais especificamente o cérebro, como os ligantes seletivos para o receptor de estrogênio beta, pode oferecer proteção contra a depressão, evitando os efeitos adversos da terapia com estrogênio.

Em suma, a prevalência de depressão, que é significativamente maior em mulheres, é influenciada por uma complexa interação de fatores biológicos e hormonais. A compreensão desses mecanismos pode levar ao desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e específicos para as mulheres.

Referência:

Albert, P. R. (2015). Why is depression more prevalent in women?. Journal of Psychiatry & Neuroscience, 40(4), 219–221. https://doi.org/10.1503/jpn.150205

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