Compreendendo o Subaproveitamento em Crianças Superdotadas: um Problema e sua Abordagem

O subaproveitamento acadêmico em indivíduos jovens superdotados representa um desperdício significativo de potencial, um problema que afeta não apenas o indivíduo, mas toda a sociedade. Além do impacto no desempenho escolar, essa situação pode manifestar-se por meio de comportamentos sociais ou pessoais indesejáveis, indicando uma busca por uma saída para o potencial não utilizado. A identificação e intervenção com esses jovens constitui um desafio importante para educadores e orientadores.

O estudo em questão define a criança superdotada como um jovem que se encontra a dois ou mais desvios-padrão acima da média em inteligência geral, o que corresponde aproximadamente ao top 2% da população, com um quociente de inteligência (QI) acima de 129 no teste Stanford Binet. O subaproveitamento é definido como um desempenho que coloca o indivíduo 30 percentis ou mais abaixo de sua capacidade no mesmo grupo. Especificamente para crianças superdotadas, são consideradas “subaproveitadas” se estiverem no terço médio da classificação acadêmica e “severamente subaproveitadas” se estiverem no terço mais baixo.

Pesquisas indicam que, mesmo em escolas com programas bem estruturados e em diferentes contextos socioeconômicos, existem proporções notáveis de alunos superdotados que apresentam subaproveitamento. Um estudo em uma escola de alto nível socioeconômico, por exemplo, revelou que 42% dos alunos superdotados do ensino médio eram subaproveitados. Outra pesquisa em uma escola particular indicou uma taxa menor de 9% de subaproveitamento entre alunos superdotados, o que pode estar relacionado ao maior controle exercido pela escola e a fatores de evasão diferencial.

Características dos Subaproveitados Superdotados

Diversos estudos exploraram as diferenças entre alunos superdotados com alto desempenho e aqueles com baixo desempenho. A pesquisa de Robert (4) com crianças clinicamente desajustadas e superdotadas apontou que a maioria gostava da escola, mas seus problemas eram centrados no ambiente familiar. As razões para problemas escolares incluíam falta de interesse, aversão ao professor, trabalho muito fácil ou ausência de amigos. Os diagnósticos clínicos desses jovens frequentemente indicavam insegurança, mau ajustamento social, intolerância à autoridade dos pais e falta de identificação com os mesmos. As causas subjacentes foram atribuídas a desacordos parentais, superproteção, medos dos pais e separações ou divórcios.

Em uma análise comparativa, Landstrom e Natvig (3) constataram que alunos superdotados subaproveitados, em contraste com seus pares de alto desempenho, eram majoritariamente meninos. Eles tinham pais que participavam menos de atividades religiosas, menos livros em casa e, em geral, expressavam um padrão de indiferença ou rejeição parental. Além disso, esses alunos passavam menos tempo estudando, mas também tinham menos tempo para outras atividades, indicando dificuldades em gerenciar o próprio tempo. Eles também demonstravam menor habilidade em interações sociais e em se ajustar à estrutura social.

A pesquisa de Gowan (2) em uma escola secundária para meninos revelou que os subaproveitados eram significativamente menos sociáveis e exerciam menos liderança do que os alunos com alto desempenho. A conclusão foi que a origem do subaproveitamento reside na autossuficiência e que a falta de desempenho acadêmico e de liderança estão frequentemente associadas à insociabilidade.

Sugestões para Orientação Profissional

Considerando as características desses jovens, o texto propõe diversas estratégias de aconselhamento. É recomendado que os orientadores tentem alcançar e engajar esses alunos em atividades sociais, uma vez que eles tendem a ser autossuficientes e menos sociáveis. Além disso, os orientadores podem buscar construir a autoconfiança desses alunos em áreas onde eles têm grande chance de sucesso, seja em esportes, música ou em alguma disciplina acadêmica, e conectá-los a figuras de adultos que possam servir de modelo.

É crucial abordar as ansiedades específicas que esses jovens enfrentam, como dependência econômica da família, preocupações com o futuro e a pressão para melhorar seu desempenho acadêmico para ingressar na universidade. O orientador deve mostrar-se acessível e encorajá-los a seguir com seus planos universitários. Adicionalmente, a terapia em grupo é sugerida como uma forma de ajudá-los a desenvolver habilidades sociais e criar laços com seus pares.

Referência:

GOWAN, J. C. The Underachieving GIFTED CHILD. Exceptional Children, v. 21, n. 7, p. 247-249, 270, Apr. 1955.

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