A depressão é um dos transtornos mentais mais comuns e sua prevalência tem aumentado, representando uma crescente ameaça à saúde pública. Um estudo de revisão focado na relação entre a ingestão de nutrientes e o risco de depressão destaca o papel de deficiências nutricionais no funcionamento do cérebro e do sistema nervoso, o que pode influenciar o surgimento de sintomas depressivos. Deficiências de nutrientes como proteínas, vitaminas do complexo B, vitamina D, magnésio, zinco, selênio, ferro, cálcio e ácidos graxos ômega-3 são apontadas como fatores que podem afetar a saúde mental. No entanto, é importante notar que a dieta por si só não é o único fator que influencia o risco de depressão ou ajuda no seu tratamento. Outros fatores como atividade física, sono, gerenciamento de estresse e apoio social também são cruciais para a manutenção da saúde mental.
A pesquisa explorou a relação entre a ingestão de macronutrientes e a depressão, indicando que a deficiência de proteínas pode levar à diminuição de neurotransmissores como a serotonina e a norepinefrina, que são essenciais para o humor. De fato, a ingestão de proteínas, especialmente as provenientes de leite e laticínios, pode estar associada à redução do risco de sintomas depressivos em adultos, mas essa relação não se mostrou significativa para proteínas de carne vermelha, aves, peixes, cereais e leguminosas. Um alto consumo de proteínas de origem animal, por outro lado, foi associado a uma maior propensão a transtornos mentais em mulheres iranianas. A ingestão de triptofano, um aminoácido precursor da serotonina, foi inversamente associada a sintomas depressivos em mulheres adultas jovens.
No que tange aos ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs), o estudo reforça que o consumo de ácidos graxos ômega-3, como o ácido docosahexaenoico (DHA) e o ácido eicosapentaenoico (EPA), está associado a um menor risco de depressão. O ômega-3 desempenha um papel importante na estrutura e função neuronal, com efeitos anti-inflamatórios e na modulação de neurotransmissores. Em contraste, a alta ingestão de ácidos graxos ômega-6 foi associada a um maior risco de sintomas depressivos.
A deficiência de vitaminas do complexo B, como B1, B6, B9 (ácido fólico) e B12 (cobalamina), também foi ligada a um maior risco de depressão. Essas vitaminas são essenciais para o funcionamento normal do sistema nervoso e para a síntese de neurotransmissores como serotonina e dopamina. A deficiência de vitamina D, por sua vez, aumenta o risco de depressão em 8-14%. Pacientes com depressão apresentam níveis séricos significativamente mais baixos de vitamina D. Essa vitamina atua como um regulador da produção de neurotrofinas, como o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), e modula vias imunoinflamatórias associadas à depressão.
Entre os minerais, o estudo revelou que deficiências de magnésio, zinco, selênio, cobre e manganês estão associadas a um maior risco de depressão. O magnésio, por exemplo, afeta a transmissão glutamatérgica no sistema límbico e no córtex cerebral, áreas cerebrais cruciais na fisiopatologia da depressão. O zinco, por sua vez, demonstrou potencial como auxiliar no tratamento da depressão devido às suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, além de influenciar a neurogênese e a plasticidade neuronal. A deficiência ou o excesso de cobre e ferro também podem impactar o risco de depressão, e o desequilíbrio desses elementos pode afetar a função cerebral.
Uma dieta que favorece a saúde mental deve ser variada e equilibrada, incluindo vegetais, frutas, grãos integrais, leguminosas, nozes, peixes e laticínios com baixo teor de gordura, ao mesmo tempo que se limita o consumo de açúcares simples e alimentos ultraprocessados. Contudo, a maioria das análises disponíveis se baseia em estudos transversais, o que limita a capacidade de estabelecer conclusões causais. Para obter conclusões mais robustas, é fundamental que sejam realizados estudos futuros, como estudos de coorte prospectivos e estudos de caso-controle.
Referência:
Zielińska, M., Łuszczki, E., & Dereń, K. (2023). Dietary Nutrient Deficiencies and Risk of Depression (Review Article 2018–2023). Nutrients, 15(11), 2433. https://doi.org/10.3390/nu15112433