A compreensão de crianças com altas habilidades e superdotação (AH/SD) tem evoluído de uma visão focada exclusivamente no intelecto para uma abordagem mais holística que considera seu desenvolvimento socioemocional. No Brasil, a nomenclatura oficial para esse grupo é Altas Habilidades/Superdotação, que abrange um conceito mais amplo do que o termo “superdotado”. A AH/SD é definida como um desempenho notável ou potencial elevado em uma ou mais áreas, como capacidade intelectual geral, aptidão acadêmica específica, pensamento criativo, capacidade de liderança, talento para artes ou habilidades psicomotoras.
Embora a identificação de AH/SD tenha aumentado significativamente no Brasil, passando de menos de 2 mil casos em 2005 para mais de 22 mil em 2018, a avaliação ainda enfrenta obstáculos. A avaliação psicológica com testes de QI é importante, mas não é o único método. Há um consenso de que a avaliação de AH/SD deve ser multifacetada, utilizando uma variedade de instrumentos e procedimentos, com diferentes informantes e em diversos contextos de interação social.
Desafios Socioemocionais e Habilidades Sociais
Apesar de a literatura frequentemente sugerir que pessoas com AH/SD são mais vulneráveis a problemas emocionais e sociais, alguns estudos indicam que, em média, elas têm um bom nível de autoconceito e socialização. No entanto, outros estudos, incluindo um americano de 2018, apontam uma maior incidência de transtornos mentais, como depressão, transtorno bipolar, ansiedade e autismo, bem como condições físicas em indivíduos com alto nível intelectual, sugerindo uma “hiperexcitabilidade” fisiológica e psicológica a fatores ambientais.
As habilidades sociais (HS) são um conjunto de estratégias comportamentais essenciais para o desenvolvimento infantil. A aquisição dessas habilidades permite interações sociais saudáveis e pode prevenir o surgimento de problemas comportamentais. Deficiências nas HS, relacionadas à falta de conhecimento, poucas oportunidades de modelo ou problemas de comportamento, podem comprometer as interações sociais das crianças. O desenvolvimento de HS em crianças com AH/SD é crucial, pois a falta de apoio pode levar a questões emocionais, como perfeccionismo, solidão e introversão, e a problemas sociais, como dificuldades de relacionamento com colegas e exclusão.
O Papel dos Pais e Educadores
É responsabilidade dos educadores e dos pais compreender a superdotação em seus aspectos mais básicos para promover o desenvolvimento dos potenciais dessas crianças. O apoio e o estímulo familiar são fundamentais para o desenvolvimento harmonioso da relação entre cognição e emoção, assim como para o entendimento da alta intensidade emocional que é um traço comum em pessoas superdotadas e criativas.
A legislação brasileira prevê o atendimento educacional especializado para alunos com AH/SD, o que pode incluir a aceleração, o enriquecimento curricular e o apoio psicopedagógico. Essas intervenções, combinadas com o apoio familiar e a conscientização da sociedade, são cruciais para que a criança com AH/SD desenvolva seu potencial máximo de forma integrada e saudável.
Concluindo, a superdotação é uma área de estudo complexa que exige a consideração de múltiplos fatores. A pesquisa disponível, embora limitada em alguns aspectos, aponta para a necessidade de uma abordagem integrada que não se restrinja à avaliação do QI, mas que também inclua o mapeamento de habilidades sociais, problemas de comportamento e comorbidades. Para garantir o bem-estar e o pleno desenvolvimento das crianças com AH/SD, é fundamental que haja mais investimentos na formação de professores e na orientação das famílias, além de políticas públicas que incentivem a identificação e o atendimento adequado a esses alunos.
Referência:
FRANCIOZI, R. High Abilities/Growth and Social Skills in Children: A Narrative Literature Review. International Journal of Human Sciences Research, v. 3, n. 20, p. 1-12, 2023.