A Relação entre QI Limítrofe e Transtornos de Saúde Mental em Jovens Adultos

A inteligência é uma capacidade humana fundamental que impacta a forma como interagimos com o ambiente. Estudos anteriores já demonstraram que indivíduos com deficiência intelectual (QI < 70) têm um risco elevado de desenvolver transtornos mentais. Contudo, a vulnerabilidade de pessoas com QI no limite inferior da normalidade, ou “QI limítrofe” (escores entre 70 e 84), não é tão bem documentada. Um estudo investigou essa questão, comparando a saúde mental de jovens adultos com QI limítrofe e a de um grupo de referência com QI igual ou superior a 85.

O estudo utilizou dados de um acompanhamento longitudinal na Noruega, avaliando jovens adultos de 19 anos. A saúde mental foi analisada por meio de entrevistas semiestruturadas (K-SADS P/L) e questionários de autorrelato para sintomas de TDAH e autismo (ADHD-RS e AQ). Os resultados revelaram uma diferença gritante entre os grupos: 53% dos participantes com QI limítrofe preencheram os critérios para pelo menos um diagnóstico psiquiátrico, em comparação com apenas 12% do grupo de referência. Isso representa um risco aproximadamente cinco vezes maior de ter um transtorno psiquiátrico para indivíduos com QI limítrofe.

Transtornos Mais Comuns e as Implicações Clínicas

Entre os participantes com QI limítrofe, os diagnósticos mais frequentes foram transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e transtornos de ansiedade. Além disso, oito dos 30 participantes nesse grupo tinham mais de um diagnóstico, o que ocorreu em apenas um dos 146 participantes do grupo de referência. O estudo também notou que, enquanto o QI limítrofe estava associado a diagnósticos de TDAH e ansiedade nas entrevistas clínicas, não houve diferenças significativas no autorrelato de sintomas de TDAH. Essa discrepância sugere que a avaliação clínica, que permite perguntas mais detalhadas, pode ser mais eficaz do que questionários autoaplicáveis para esse grupo.

As descobertas levantam importantes questões sobre a etiologia dessa associação. Uma teoria é a de que o QI limítrofe e os transtornos psiquiátricos podem ter causas neurológicas comuns, como uma lesão cerebral precoce. Outra interpretação é que o QI limítrofe pode aumentar a vulnerabilidade ao estresse mental devido a uma “reserva cognitiva” reduzida. A menor capacidade de lidar com as demandas escolares e sociais pode levar a estratégias de enfrentamento inadequadas, baixa autoestima e, consequentemente, ao desenvolvimento de transtornos como ansiedade e depressão.

Independentemente da causa, os resultados do estudo têm importantes implicações clínicas e sociais. É crucial que escolas e profissionais de saúde dediquem atenção especial a crianças e jovens com QI limítrofe, pois eles correm um risco elevado de desenvolver transtornos psiquiátricos. Uma intervenção precoce, que ofereça apoio educacional e psicológico adaptado, pode ser fundamental para prevenir o surgimento desses problemas e para garantir que esses jovens possam ter uma vida adulta mais saudável.

Referência:

MELBY, L. et al. Is there an association between full IQ score and mental health problems in young adults? A study with a convenience sample. BMC Psychology, v. 8, n. 1, p. 7, 2020.

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