O desempenho acadêmico tem sido tradicionalmente visto como um reflexo direto da inteligência e do esforço de um indivíduo. Contudo, uma perspectiva mais ampla sugere que um terceiro fator, a curiosidade intelectual, é um determinante fundamental do sucesso educacional. Um estudo meta-analítico investigou essa hipótese, demonstrando que a curiosidade intelectual, medida pelo construto “Typical Intellectual Engagement” (TIE), atua como um preditor direto e significativo do desempenho acadêmico, juntamente com a inteligência e a Conscienciosidade.
A pesquisa utilizou uma abordagem meta-analítica, combinando dados de diversos estudos para criar uma matriz de correlação. Os resultados mostraram que a inteligência é o preditor mais forte do desempenho acadêmico, com um peso de caminho de 0,35. No entanto, a curiosidade intelectual (TIE) e a Conscienciosidade (representando o esforço) também tiveram efeitos diretos e idênticos, com pesos de caminho de 0,20 cada. De forma notável, o efeito preditivo combinado da curiosidade e do esforço é comparável ao da inteligência. O modelo final, que incluiu esses três preditores inter-relacionados, explicou 25,7% da variância no desempenho acadêmico.
A curiosidade intelectual se distingue de outros traços de personalidade, como a “Abertura à Experiência” (Openness to Experience). Embora conceitualmente semelhantes, as meta-análises revelaram que a curiosidade intelectual (TIE) estava mais fortemente associada ao desempenho acadêmico e à Conscienciosidade do que a Abertura. Isso pode ser explicado pela composição multifacetada da Abertura, que inclui elementos como fantasia e sensibilidade estética, que não estão diretamente ligados ao esforço e à aquisição de conhecimento. A curiosidade intelectual, por outro lado, foca especificamente no desejo de se engajar e entender o mundo, o que está intrinsecamente ligado ao processo de aprendizado e ao esforço.
Essas descobertas têm implicações práticas importantes para a educação e para o recrutamento profissional. O estudo sugere que o desempenho acadêmico pode ser aprimorado ao estimular e nutrir continuamente a curiosidade dos alunos. Além disso, métodos de seleção para admissão em universidades e contratações profissionais deveriam considerar a curiosidade intelectual como um indicador de potencial. Uma “mente curiosa” não apenas impulsiona o sucesso educacional, mas também reflete uma propensão para o aprendizado ao longo da vida, complementando a inteligência e o esforço como pilares essenciais do sucesso.
Referência:
VON STUMM, S.; HELL, B.; CHAMORRO-PREMUZIC, T. The Hungry Mind: Intellectual Curiosity Is the Third Pillar of Academic Performance. Perspectives on Psychological Science, v. 6, n. 6, p. 574-588, 2011.