A Interação Gênese-Ambiente na Depressão Adolescente: O Papel do Estresse Crônico por Pares, Gênero e Desenvolvimento

A depressão é uma doença debilitante com um padrão de desenvolvimento claro, onde as taxas de diagnóstico aumentam dramaticamente na adolescência. A diferença de gênero na prevalência da depressão, com taxas mais altas em meninas, emerge tipicamente no início da adolescência, por volta dos 12 aos 13 anos. O estudo Gene Environment Mood (GEM) utilizou um desenho de coorte longitudinal acelerado em jovens (dos 8 aos 18 anos) para estabelecer e prever as trajetórias da depressão, investigando a complexa interconexão de risco genético, estressores ambientais e fatores de desenvolvimento (idade e status puberal).

Trajetórias de Desenvolvimento e Diferenças de Gênero

Os achados descritivos do estudo GEM confirmaram que as taxas de depressão aumentam significativamente na adolescência. As taxas foram relativamente baixas e estáveis (cerca de 3% a 5%) dos 8 aos 14 anos, e depois aumentaram drasticamente (de 5% para 20%) dos 14 aos 17 anos. A divergência de gênero na depressão foi significativa a partir dos 12,5 anos de idade, e manteve-se o padrão de cerca de duas vezes mais meninas do que meninos a serem diagnosticadas com depressão em quase todos os acompanhamentos de 6 meses até o final da adolescência. O status puberal também foi um preditor significativo: jovens pós-púberes tiveram uma probabilidade duas vezes e meia maior de vivenciar um episódio de depressão ao longo dos três anos. Este efeito do status puberal foi mais pronunciado entre as meninas pós-púberes, que experimentaram o maior aumento prospectivo nos diagnósticos de depressão.

Interação Gene-Ambiente e Vulnerabilidade

O estudo testou a hipótese de que o polimorfismo do transportador de serotonina 5-HTTLPR, um proeminente marcador de suscetibilidade genética, interage com o estresse crônico por pares para prever prospectivamente o início de episódios depressivos, sendo este efeito potenciado por fatores de desenvolvimento. O estresse crônico por pares foi escolhido por ser um dos estressores ambientais mais relevantes e potentes associados à depressão em jovens.

Os resultados confirmaram uma interação significativa de três vias (Idade x 5-HTTLPR x Estresse Crônico por Pares) na predição do início futuro da depressão. Consistente com a hipótese, adolescentes mais velhos (acima de 13 anos) que possuíam o genótipo SS/SL (portadores do alelo de baixa expressão, considerado mais suscetível) e que experimentaram maior estresse crônico por pares foram os mais propensos a serem diagnosticados com um novo episódio depressivo. Este efeito de interação GxE não foi encontrado no grupo de jovens mais novos (com idade inferior a 13 anos).

É importante notar que apenas a idade, e não o status puberal, moderou esta interação GxE, sugerindo que processos de desenvolvimento mais gerais, em vez do status puberal específico, influenciam o efeito GxE sinérgico na depressão.

O Gênero e a Reatividade ao Estresse por Pares

Apesar de o gênero não ter moderado a interação de três vias GxExIdade , o estudo encontrou uma interação significativa de duas vias (Gênero x Estresse Crônico por Pares) na predição do início prospectivo da depressão.

As meninas foram mais propensas a relatar maiores níveis de estresse crônico por pares ao longo dos três anos.

O estresse crônico por pares previu o início prospectivo da depressão mais fortemente entre as meninas do que entre os meninos, embora o efeito tenha sido significativo em ambos os sexos.

Meninas: o estresse crônico por pares aumentou a chance de depressão prospectiva (Odds Ratio = 4.17).

Meninos: o estresse crônico por pares aumentou a chance de depressão prospectiva (Odds Ratio = 3.58).

Esses achados confirmam que as meninas são mais reativas ao estresse por pares quando se trata de desenvolver episódios depressivos.

Conclusão e Implicações

O estudo GEM reforça a necessidade de considerar a idade, a suscetibilidade genética e a exposição ao estresse crônico por pares como fatores cruciais no desenvolvimento da depressão na adolescência. O aumento acentuado da depressão, e o surgimento da diferença de gênero após os 12,5 anos e pós-puberdade , sugere que a adolescência é um período de acentuação de vulnerabilidades pré-existentes, onde a suscetibilidade genética (5-HTTLPR) pode potencializar o impacto do estresse crônico por pares, resultando no início da depressão em jovens mais velhos. A maior reatividade das meninas ao estresse por pares também aponta para a importância do desenvolvimento de intervenções focadas no estresse interpessoal e na resiliência em ambientes sociais para este grupo demográfico.

Referência:

Hankin BL, Young JF, Abela JRZ, Smolen A, Jenness JL, Gulley LD, Technow JR, Gottlieb AB, Cohen JR, Oppenheimer CW. Depression from childhood into late adolescence: Influence of gender, development, genetic susceptibility, and peer stress. J Abnorm Psychol. 2015 Nov;124(4):803-816. doi:10.1037/abn0000089.

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