A ascensão exponencial da utilização de Mídias de Redes Sociais (MRS) na última década impulsionou um vasto interesse acadêmico. Pesquisadores nas disciplinas de comunicação e psicologia têm procurado incessantemente compreender os impactos decorrentes da participação em Sítios de Redes Sociais (SNSs) em populações como adolescentes e jovens adultos. A literatura existente oferece robustas evidências que sustentam a premissa de que os padrões de uso dessas plataformas têm a capacidade de influenciar significativamente os usuários (Trifiro & Gerson, 2019).
Entretanto, uma análise crítica da metodologia empregada revela uma deficiência substancial no rigor da mensuração. A maior parte das evidências que correlacionam o uso de MRS e seus impactos provém de contextos experimentais de laboratório (experimental laboratory settings), onde os participantes são submetidos à observação direta por parte dos pesquisadores. Essa dependência de ambientes controlados levanta questões sobre a validade ecológica e a generalização dos achados para o uso cotidiano e não supervisionado.
A assertiva central desta discussão reside na carência de medidas validadas e universais para quantificar os padrões de uso em SNSs, particularmente no que concerne à distinção entre o uso ativo e o uso passivo (Trifiro & Gerson, 2019). O uso ativo, geralmente associado à publicação e interação, é conceitualmente distinto do uso passivo, que envolve a simples visualização do conteúdo de terceiros. A falta de uma métrica psicometricamente robusta e padronizada para esses construtos dificulta a replicação precisa dos estudos e a consolidação de um corpo de conhecimento coeso na área.
As medidas disponíveis, como a Escala de Intensidade de Uso de Facebook (Facebook Intensity Scale – FIS) e variações subsequentes, frequentemente se concentram na intensidade de uso (frequência, duração da sessão) e não na natureza do comportamento (ativo vs. passivo). Além disso, a dependência de relatos de autoavaliação (self-report) é problemática. Indivíduos tendem a subestimar ou superestimar a duração e o tipo de seu engajamento, introduzindo vieses de memória e de desejabilidade social nos dados coletados.
A comunidade científica é encorajada a desenvolver e validar instrumentos de medição de uso de MRS que sejam aplicáveis de forma geral e que superem as limitações metodológicas atuais. A criação de uma medida universalmente aceita e validada para padrões de uso, incluindo a separação categórica e temporal entre uso ativo e passivo, é crucial para avançar na compreensão dos impactos psicossociais das redes sociais na sociedade contemporânea (Trifiro & Gerson, 2019).
Referência:
TRIFIRO, Briana M.; GERSON, Jennifer. Social Media Usage Patterns: Research Note Regarding the Lack of Universal Validated Measures for Active and Passive Use. Social Media + Society, v. 5, n. 2, p. 1-4, abr.-jun. 2019. DOI: 10.1177/2056305119848743.