A Heterogeneidade do Transtorno Depressivo Maior ao Longo do Desenvolvimento: Foco na Adultícia Emergente e no Risco Suicida Adolescente

O Transtorno Depressivo Maior (TDM) é um transtorno prevalente que se manifesta em níveis comparáveis aos adultos já no final da adolescência. Uma análise longitudinal inovadora, utilizando dados do Oregon Adolescent Depression Project (OADP), contrastou as características centrais dos episódios de TDM em quatro períodos desenvolvimentais distintos: infância (5,0–12,9 anos), adolescência (13,0–17,9), idade adulta emergente (18,0–23,9) e idade adulta (24–30). Este enfoque longitudinal com o mesmo grupo de indivíduos por um longo período (até os 30 anos) permitiu traçar padrões de ocorrência, curso e comorbidade do transtorno.

Padrões de Incidência e a Ubiquidade do TDM

O estudo revelou que a incidência de primeiro episódio de TDM foi significativamente menor na infância em comparação com todos os períodos subsequentes. As taxas mais elevadas foram observadas na idade adulta emergente, superando as da idade adulta. Surpreendentemente, mais da metade da amostra (51% de incidência cumulativa) havia experimentado um episódio de TDM aos 30 anos, uma taxa que sublinha a ubiquidade do TDM em amostras comunitárias prospectivas.

Em relação à recorrência, as taxas foram significativamente menores durante a infância (6%) em comparação com os períodos seguintes, os quais não apresentaram diferenças significativas entre si (adolescência: 38%; idade adulta emergente: 43%; idade adulta: 39%).

O Impacto Contínuo do Gênero

O gênero feminino emergiu como um preditor consistente de primeira incidência de TDM em todos os quatro períodos desenvolvimentais. Este efeito foi de magnitude média e comparável ao longo dos períodos. Contudo, o gênero feminino não se mostrou associado à recorrência do transtorno em nenhum dos períodos. A persistência desta diferença na primeira incidência até a idade adulta sugere que a pesquisa sobre disparidades de gênero deve expandir seu foco para além da adolescência.

Duração e Comorbidade

A duração dos episódios de TDM demonstrou ser significativamente maior na infância (Média de 69,0 semanas) em comparação com os períodos subsequentes, os quais tiveram durações médias comparáveis (adolescência: 24,4 semanas; idade adulta emergente: 23,8 semanas; idade adulta: 28,1 semanas).

A comorbidade com transtornos de ansiedade e transtornos por uso de substâncias foi universal, ocorrendo em todos os quatro períodos12121212. A magnitude da comorbidade com ansiedade manteve-se comparável ao longo dos períodos.

O Risco Suicida na Adolescência

Um dos achados mais salientes e clinicamente críticos é o risco de tentativas de suicídio. As taxas de tentativa de suicídio foram significativamente mais elevadas durante a adolescência (19%) em comparação com a idade adulta emergente (8%) e a idade adulta (5%). A taxa de tentativas de suicídio na adolescência foi de 2 a 4 vezes maior do que nas idades adulta emergente e adulta, sendo esse efeito impulsionado primariamente pelas mulheres adolescentes.

Implicações e Foco Futuro

Os resultados do OADP fornecem implicações cruciais para a psiquiatria desenvolvimental:

Adultícia Emergente (18–23,9 anos): Este período merece um foco primário na pesquisa em TDM, pois apresenta altas taxas de primeira incidência (significativamente maiores que na idade adulta) combinadas com alta recorrência.

Risco Suicida Adolescente: A taxa marcadamente elevada de tentativas de suicídio durante a adolescência, especialmente em mulheres, exige um foco de pesquisa dedicado à compreensão e prevenção do comportamento suicida neste período.

Prevenção: Dado que um episódio de TDM anterior aumentou a probabilidade de um episódio futuro em até quase quatro vezes na idade adulta , a prevenção da recorrência é crucial.

Referência:

ROHDE, Paul et al. Key Characteristics of Major Depressive Disorder Occurring in Childhood, Adolescence, Emerging Adulthood, and Adulthood. Clinical Psychological Science, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 41-53, jan. 2013.

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