O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento com uma prevalência significativa em crianças e adolescentes, estimada em 5%. Caracterizado por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, o TDAH é uma condição crônica e heterogênea que se manifesta de forma variável entre e dentro dos indivíduos. O transtorno está associado a déficits cognitivos em domínios como memória de trabalho, controle inibitório e planejamento, além de uma alta taxa de comorbidades psiquiátricas e somáticas. A falta de tratamento adequado do TDAH pode levar a desfechos adversos a longo prazo, incluindo menor desempenho acadêmico e maior risco de acidentes de trânsito.
As diretrizes clínicas atuais recomendam uma abordagem de tratamento multimodal e individualizada que inclui psicoeducação, intervenções farmacológicas e não farmacológicas. As terapias farmacológicas aprovadas para crianças e adolescentes incluem estimulantes (metilfenidato e anfetaminas) e não estimulantes (atomoxetina, guanfacina e clonidina). Os estimulantes são considerados a primeira linha de tratamento e atuam principalmente aumentando a eficiência da atividade do córtex pré-frontal, otimizando as funções executivas e de atenção. Sua eficácia na redução dos sintomas centrais do TDAH é comprovada em ensaios de curto prazo, com grandes tamanhos de efeito.
Apesar dos benefícios, os tratamentos farmacológicos não estão isentos de desafios. A falta de estudos de alta qualidade sobre os efeitos a longo prazo é uma lacuna significativa na pesquisa, e os resultados de estudos observacionais, como o do Multimodal Treatment of ADHD (MTA), levantam questões sobre a eficácia contínua dos estimulantes na redução dos sintomas após anos de uso. Além disso, os estimulantes podem causar efeitos colaterais como diminuição do apetite, distúrbios do sono e aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca. Embora esses efeitos sejam geralmente leves, exigem monitoramento cuidadoso, especialmente em pacientes com condições cardiovasculares preexistentes.
Os medicamentos não estimulantes são frequentemente recomendados como segunda linha de tratamento, com tamanhos de efeito menores do que os estimulantes. A atomoxetina atua como um inibidor seletivo da recaptação de noradrenalina, aumentando os níveis sinápticos de noradrenalina e dopamina no córtex pré-frontal. Já a guanfacina e a clonidina atuam como agonistas dos receptores adrenérgicos alfa-2, fortalecendo a função regulatória do córtex pré-frontal. Os benefícios dos não estimulantes incluem o controle de sintomas “24 horas por dia”, um menor risco de abuso de substâncias e a possibilidade de serem a primeira opção em casos com comorbidades, como transtornos de tique e transtornos de uso de substâncias.
A pesquisa futura deve abordar várias questões críticas. A falta de estudos comparando medicamentos diretamente ou em combinação é uma lacuna importante. A representatividade das populações dos ensaios clínicos, que muitas vezes excluem pacientes com comorbidades, também precisa ser melhorada para refletir a prática clínica. Além disso, a busca por novos medicamentos com mecanismos de ação inovadores é crucial, já que uma parcela significativa dos pacientes não responde aos tratamentos atuais de forma satisfatória. Novas substâncias, como a centanafadina e a viloxazina, estão em desenvolvimento, mas ainda é cedo para determinar seu papel futuro.
Em conclusão, o tratamento farmacológico do TDAH é eficaz no manejo dos sintomas, mas a otimização da abordagem terapêutica ainda é necessária. A individualização do tratamento, considerando fatores como a idade, a gravidade dos sintomas, a presença de comorbidades e as preferências do paciente, é fundamental para o sucesso. A adesão ao tratamento também é um desafio comum que deve ser abordado ativamente para garantir os melhores resultados. É imperativo que a pesquisa futura se concentre em preencher as lacunas de evidência existentes, especialmente em relação a desfechos de longo prazo e à personalização do tratamento, para que a abordagem clínica possa ser cada vez mais eficaz e adaptada às necessidades de cada paciente.
Referência:
Mechler, K., Banaschewski, T., Hohmann, S., & Häge, A. (2022). Evidence-based pharmacological treatment options for ADHD in children and adolescents. Pharmacology & Therapeutics, 230, 107940. https://doi.org/10.1016/j.pharmthera.2021.107940.