A depressão é um transtorno emocional que se destaca pela sua alta incidência, alta taxa de incapacidade e alta mortalidade, representando uma séria ameaça à saúde mental humana. Com as transformações aceleradas no ambiente social, a manifestação da depressão está ocorrendo cada vez mais cedo. Globalmente, aproximadamente uma em cada sete crianças de 10 a 19 anos enfrenta um transtorno mental, o que corresponde a 13% da carga global de doenças nessa faixa etária. A depressão, em particular, está associada a consequências graves, como irritabilidade, instabilidade emocional e suicídio.
Etiologia Complexa: Da Genética ao Ambiente
A etiologia da depressão adolescente é multifatorial, englobando interações complexas entre predisposições biológicas e fatores ambientais adversos.
Fatores Genéticos e Perinatais
Diversos genes foram associados ao risco de depressão, incluindo SIRT1, 5-HT, BDNF, COMT, OXTR, NR3C2, SLC6A4 e FKBP5. A interação gene-ambiente desempenha um papel crucial, onde a suscetibilidade genética interage com experiências estressantes precoces para promover o desenvolvimento do transtorno.
Nascimento Prematuro e Baixo Peso: O parto prematuro e o baixo peso ao nascer (PT/LBW) estão associados a um risco mais elevado de desenvolver sintomas de ansiedade e depressão em pacientes com 10 a 25 anos.
Modo de Parto: Estudos recentes sugerem que tanto a cesariana não planejada quanto a planejada podem aumentar a probabilidade de transtornos de ansiedade e bipolares em crianças e adolescentes.
Inflamação, Neuroendocrinologia e Microbiota
O desenvolvimento da depressão também está ligado à inflamação precoce, que pode aumentar a suscetibilidade da micróglia no córtex cingulado anterior a eventos estressantes durante a puberdade. O aumento dos níveis de citocinas pró-inflamatórias (como IL-6 e TNF-α) desvia o metabolismo do triptofano, precursor da serotonina, para a produção de quinurenina neurotóxica.
O desequilíbrio de neurotransmissores (5-HT, DA e NE) e a disregulação hormonal no eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HPA) também são fatores significativos, sugerindo uma má adaptação à estimulação por estresse.
Ademais, a disbiose da microbiota intestinal tem sido intimamente relacionada ao início e progressão da depressão, atuando por meio do eixo intestino-cérebro (microbiota-gut-brain axis – MGBA), influenciando o metabolismo do triptofano e a modulação do eixo HPA e do BDNF.
Trauma e Status Socioeconômico
O estresse psicológico, em particular a alta pressão acadêmica, é um fator contribuinte crucial, exacerbado por cargas pesadas, relações tensas com professores e pares, e altas expectativas parentais. Além disso, o Status Socioeconômico (SES) mais baixo também aumenta o risco devido à tensão financeira, menor acesso a recursos de saúde e educação, e maior exposição a eventos adversos.
O Impacto Crítico da Pandemia de COVID-19
A pandemia de COVID-19, iniciada no final de 2019, causou um impacto significativo na saúde mental adolescente, com as taxas de prevalência e incidência superando em muito as previsões.
Houve um aumento dramático de 25% na incidência de ansiedade e depressão globalmente.
A incidência de Transtorno Depressivo Maior (TDM) subiu de 2.333,91 por 100.000 para 3.030,49 por 100.000 no período da pandemia.
Fatores de Estresse Pandêmicos: O lockdown, o fechamento de escolas, as oportunidades limitadas de atividade física e interação social, e a incerteza econômica contribuíram negativamente para a saúde mental.
Disparidades: Embora os países de alta renda (HICs) tivessem maior capacidade para intervenções, a pandemia intensificou as desigualdades de saúde preexistentes em países de baixa e média renda (LMICs), onde o estigma cultural e a escassez de recursos de saúde mental agravaram a situação.
Diretrizes de Tratamento e Necessidades Futuras
O tratamento da depressão adolescente deve ser cauteloso e individualizado.
Abordagem Combinada (Ouro)
Para a depressão moderada a grave, a combinação de psicoterapia com antidepressivos (terapia combinada) e o Cuidado Integrativo são as abordagens de escolha. O Cuidado Integrativo, que envolve equipes multidisciplinares e é centrado no paciente, demonstrou melhorias mais fortes nos sintomas depressivos a longo prazo em comparação com o cuidado convencional.
Psicoterapia: A Primeira Linha
Para a depressão leve a moderada, o tratamento deve ser predominantemente não farmacológico (Psicoterapia) devido à sua eficácia e à ausência de risco de efeitos adversos ou suicídio.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Terapia Interpessoal para Adolescentes (TIP-A) são as principais modalidades de psicoterapia.
A TCC é eficaz para jovens com depressão, tanto sozinha quanto em combinação, e reduz o risco de depressão em 63% como medida preventiva.
Antidepressivos: Uso Seletivo e Monitoramento
Antidepressivos são controversos devido à sua eficácia e tolerabilidade.
SSRIs: Apenas a fluoxetina (aprovada pela FDA para maiores de 8 anos) e o escitalopram (aprovado para maiores de 12 anos) são os SSRIs mais recomendados para depressão moderada a grave, sendo a combinação de fluoxetina com TCC a melhor escolha para o tratamento agudo. SSRIs não são recomendados para depressão leve.
SNRIs e Tricíclicos: Os Inibidores da Recaptação de Serotonina e Norepinefrina (SNRIs), como a venlafaxina, não são tipicamente o tratamento primário, e os antidepressivos tricíclicos são ineficazes e causam mais efeitos colaterais.
Monitoramento: É crucial o monitoramento rigoroso dos sintomas, das reações adversas e da ideação suicida, especialmente durante o uso de antidepressivos.
Pesquisa de Vanguarda
Os tratamentos existentes são insuficientes para atender às demandas clínicas. Ensaios clínicos estão em andamento para novas abordagens, incluindo ketamina (considerada promissora) e Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (tDCS), uma técnica não invasiva e bem tolerada. A busca por novos alvos terapêuticos é promissora para o desenvolvimento de medicamentos mais eficazes e seguros.
Referência:
YIN, Chunyu et al. Advances in the prevalence and treatment of depression for adolescents: a review. Frontiers in Pharmacology, v. 16, p. 1574574, 2025.