A transformação digital na área da saúde transcendeu o estatuto de mera conveniência administrativa para se estabelecer como um imperativo global para o aprimoramento da eficiência, da qualidade e da acessibilidade dos serviços. Este movimento é catalisado por inovações tecnológicas e pela crescente demanda por uma abordagem de cuidado centrada no paciente. Sistemas de saúde ao redor do mundo, como os da Alemanha e Estônia, demonstram que investimentos estratégicos em tecnologia e estruturas regulatórias sólidas podem gerar benefícios substanciais.
A nível internacional, práticas digitais de excelência são caracterizadas pela integração e pelo foco na segurança dos dados. Na Alemanha, a aprovação do Digital Health Act em 2019 tornou as ferramentas digitais legalmente parte integrante dos serviços de saúde. Exemplos incluem a prescrição eletrônica (eRezept) e os prontuários eletrônicos do paciente (ePA), promovendo a interoperabilidade e a autonomia do cidadão, com mais de 70 milhões de beneficiários cobertos. A Estônia, líder mundial em governança digital, alcançou 100% de digitalização nos registros médicos e utiliza tecnologia blockchain para proteger a privacidade dos dados, resultando em uma das arquiteturas digitais mais eficientes em termos de custo na Europa.
O Cazaquistão tem participado ativamente desta evolução, com reformas que visam modernizar a infraestrutura e introduzir soluções digitais. Desde a adoção do Conceito Nacional para o Desenvolvimento do e-Health em 2013, o país implementou sistemas de informação médica (MIS), Passaportes Eletrônicos de Saúde e Prontuários Eletrônicos (EMR), que se integram com bases de dados nacionais. No entanto, a trajetória nacional é marcada por desafios cruciais que comprometem o potencial da digitalização. A fragmentação e a limitada interoperabilidade entre os múltiplos MIS existentes impedem a troca fluida de dados. Soma-se a isso a disparidade na infraestrutura digital entre as áreas urbanas e rurais e o nível insuficiente de alfabetização digital entre profissionais e pacientes.
Para alinhar seu sistema de saúde com o padrão global, o Cazaquistão deve adotar uma abordagem sistêmica, inclusiva e com visão de futuro. As recomendações estratégicas baseadas em exemplos internacionais incluem: o desenvolvimento de uma plataforma digital nacional unificada; o fortalecimento da cibersegurança e dos padrões de interoperabilidade para garantir a troca segura de informações (como visto na Estônia); a expansão dos serviços de telessaúde; e o investimento contínuo na formação da força de trabalho e na literacia digital dos cidadãos. Ao priorizar uma estratégia de saúde digital que aborde estas lacunas estruturais e regulatórias, o país poderá não só concluir a sua transformação, mas também construir um sistema mais resiliente, transparente e centrado no paciente. A integração estratégica da Inteligência Artificial (IA) para o diagnóstico e previsão epidemiológica, como exemplificado pela Coreia do Sul, poderá maximizar o impacto da gestão de dados.
Em última análise, a digitalização na saúde não se resume à implementação de tecnologia; é uma reforma fundamental de processos e cultura, exigindo uma robusta governança e apoio político estável, bem como modelos de financiamento sustentáveis para a manutenção e evolução contínua das plataformas. A adoção de um roteiro estruturado com estas prioridades é crucial para garantir que a promessa de maior equidade e qualidade na saúde se concretize para todas as gerações futuras no Cazaquistão.
Referência:
QUMAR, Ainur B. et al. Digital transformation in healthcare: global best practices and Kazakhstan’s path forward. Central Asian Journal of Medical Hypotheses and Ethics, [S.l.], v. 6, n. 2, p. 125-132, 2025. DOI: 10.47316/cajmhe.2025.6.2.06.