A superdotação intelectual pode ser tanto um trunfo quanto um fardo para estudantes, e suas características afetam significativamente o desenvolvimento social, emocional e de carreira. Infelizmente, muitos conselheiros escolares e outros profissionais da educação podem não estar cientes dessas diferenças qualitativas ou podem ter preconceitos que prejudicam o relacionamento terapêutico. O artigo “School Counselors and Gifted Kids: Respecting Both Cognitive and Affective” defende que a superdotação deve ser vista como um fator de risco para resultados pessoais e educacionais insatisfatórios e que os conselheiros escolares precisam de uma preparação e conscientização adequadas para atender às necessidades complexas dessa população.
O principal problema é a lacuna na preparação profissional. O desenvolvimento socioemocional de jovens superdotados recebe pouca ou nenhuma atenção nos programas de formação de conselheiros. Além disso, a definição de superdotação em escolas e distritos é frequentemente limitada ao alto desempenho acadêmico. Essa visão restrita pode levar à crença de que a alta capacidade intelectual impede dificuldades individuais e familiares, resultando na falta de atenção ao bem-estar de alunos que não se encaixam nos estereótipos positivos.
É fundamental reconhecer que a superdotação, embora possa ser um recurso para a resolução de problemas e a resiliência, é também uma sobrecarga. Características como sensibilidade aguçada, intensidade emocional e sobre-excitabilidade podem exacerbar as dificuldades do desenvolvimento e das transições de vida. A dessincronia no desenvolvimento, onde o desenvolvimento cognitivo supera o social e emocional, é comum em jovens superdotados. Tentativas de controlar emoções intensas de forma cognitiva podem ser ineficazes, levando a sentimentos de descontrole emocional.
O artigo distingue entre dois perfis de alunos superdotados:
Alunos com baixo desempenho: O desempenho acadêmico pode diminuir devido a circunstâncias de vida negativas. Suas preocupações podem permanecer ocultas, e a falta de linguagem expressiva ou o medo de emoções extremas pode dificultar a busca por ajuda. Muitos alunos que foram considerados com baixo desempenho durante a adolescência se tornaram adultos bem-sucedidos, mas muitas vezes só recuperaram o desempenho acadêmico tardiamente, demonstrando que o desempenho atual não prevê o futuro.
Alunos de alto desempenho: Acreditam que os adultos se concentram apenas em seu desempenho, não em seus sentimentos de dúvida ou pensamentos perturbadores. Isso os leva a não procurar ajuda para questões sérias como bullying, trauma sexual, depressão e ideação suicida. O alto desempenho pode desviar a atenção dos adultos de problemas graves, com a manutenção do sucesso acadêmico tornando-se a única coisa controlável em meio ao caos e à violência.
Para lidar com essa complexidade, os conselheiros escolares precisam adotar abordagens diferenciadas. Uma estratégia é usar um quadro de referência do desenvolvimento, que ajuda os alunos superdotados a dar sentido a seus sentimentos e comportamentos. É crucial que um adulto credível normalize esses desafios, pois é provável que nenhum outro adulto tenha se envolvido em conversas sobre as tarefas de desenvolvimento e como elas são vivenciadas.
Outra abordagem é o reenquadramento, que usa os pontos fortes cognitivos dos alunos para gerar insights produtivos. Por exemplo, o baixo desempenho pode ser reenquadrado como coragem e independência, ou a hiperatividade pode ser vista como a capacidade de obter atenção, levando a carreiras em ensino ou advocacia. Além disso, os conselheiros podem aplicar um quadro de referência de mudança-perda-luto para ajudar os jovens superdotados a processar as emoções ligadas a mudanças de vida, como divórcio dos pais ou rejeição romântica.
Em suma, os conselheiros escolares estão em uma posição única para atuar como defensores dos alunos superdotados, indo além da abordagem focada no desempenho. Ao respeitar e se interessar pelas complexidades e lutas “invisíveis” desses jovens, os conselheiros podem ajudar a construir resiliência e bem-estar, garantindo que o potencial de cada aluno seja nutrido em um ambiente que reconhece e valoriza todas as suas dimensões.
Referência:
Peterson, J. S. (2015). School Counselors and Gifted Kids: Respecting Both Cognitive and Affective. Journal of Counseling & Development, 93(2), 153–162. doi: 10.1002/j.1556-6676.2015.00191.x.

