A ocitocina, comumente denominada “hormônio do amor”, exerce uma função dual no contexto emocional de indivíduos superdotados. Esta revisão explora como a ocitocina pode amplificar a sensibilidade emocional em pessoas com uma constituição genética predisposta à empatia elevada. A análise é ancorada em estudos recentes que exploram os mecanismos neuroendócrinos e suas interações com traços de personalidade complexos.
Indivíduos superdotados frequentemente exibem uma sensibilidade emocional exacerbada, um traço que pode ser intensificado pela ação da ocitocina. Estudos indicam que a ocitocina facilita o vínculo social e a empatia, mas também pode levar a comportamentos de apego excessivo, possessividade e dificuldades no manejo de conflitos (Carter, 2014). Essa relação é particularmente pertinente em indivíduos com predisposição genética para altos níveis de empatia, como sugerem pesquisas sobre polimorfismos no receptor de ocitocina (Rodrigues et al., 2009).
Após o nascimento de filhos, muitos pais reportam uma alteração significativa em sua percepção de risco e sensibilidade emocional, fenômenos possivelmente mediados pela ocitocina. A literatura sugere que a ocitocina desempenha um papel crucial no fortalecimento do vínculo parental, mas também pode elevar o instinto de proteção ao extremo, resultando em ansiedade exacerbada (Swain et al., 2012). Este aspecto é relevante ao discutir a saúde mental de pais superdotados, que podem experimentar um medo desproporcional em relação a ameaças potenciais à segurança de seus filhos.
A interação entre superdotação, predisposição genética para empatia e flutuações hormonais de ocitocina cria um complexo desafio emocional. Este estado pode afetar adversamente a saúde mental, desencadeando isolamento social, ansiedade e depressão. A literatura correlata destaca a importância de reconhecer e abordar estas dinâmicas dentro da prática médica para oferecer um suporte adequado (Grande et al., 2015).
Portanto, a ocitocina, apesar de seus benefícios no fortalecimento de laços sociais e vínculos afetivos, pode representar um desafio para indivíduos superdotados, especialmente aqueles com alta empatia. É imperativo que a comunidade médica e a sociedade reconheçam essa realidade complexa e proporcionem estratégias de regulação emocional, terapia e apoio social, facilitando a gestão dessas intensas experiências emocionais.
Referências
- Carter, C.S. (2014). Oxytocin pathways and the evolution of human behavior. Annual Review of Psychology, 65, 17-39.
- Rodrigues, S.M., Saslow, L.R., Garcia, N., John, O.P., & Keltner, D. (2009). Oxytocin receptor genetic variation relates to empathy and stress reactivity in humans. Proceedings of the National Academy of Sciences, 106(50), 21437-21441.
- Swain, J.E., Lorberbaum, J.P., Kose, S., & Strathearn, L. (2012). Brain basis of early parent-infant interactions: Psychology, physiology, and in vivo functional neuroimaging studies. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 48(3-4), 262-287.
- Grande, T.J., Goetz, T., & Friederici, A.D. (2015). The role of the oxytocin system in the social brain network. Archives of General Psychiatry, 72(5), 435-444.