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O que é interferência intelectual é discrepância cognitiva?

Ao considerar as diversas vertentes que se desdobram de cada linha de raciocínio, a simplificação pode funcionar como uma forma de objetividade, mas existem inúmeras nuances e ramificações dentro de uma mesma ideia.

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A interferência intelectual, assim como a discrepância cognitiva, é um fenômeno recorrente na vida dos superdotados, uma vez que seu cérebro opera de maneira mais eficiente em termos de lógica, análise, abstração, criatividade e maior literalidade. Ao considerar as diversas vertentes que se desdobram de cada linha de raciocínio, a simplificação pode funcionar como uma forma de objetividade, mas existem inúmeras nuances e ramificações dentro de uma mesma ideia. Isso, por sua vez, gera interferências na comunicação, frequentemente resultando na escolha de interpretações que banalizam o conteúdo original.

Há uma tentativa de manter um nível de diálogo que permita uma interpretação subjetiva limitada, mas com o objetivo de aprofundamento, o que raramente é acompanhado pelos interlocutores.

O termo “discrepância cognitiva” em si não é amplamente utilizado em estudos científicos de forma isolada, mas o conceito subjacente é abordado em várias áreas de pesquisa sobre superdotação e diferenças cognitivas. Existem estudos que tratam de fenômenos relacionados, como dificuldades de comunicação entre pessoas com altas capacidades intelectuais e o resto da população, além de desafios sociais e emocionais que surgem dessa diferença.

Os principais conceitos abordados em estudos científicos que tratam dessas questões incluem:

1. Descompasso Cognitivo-Social (Cognitive-Social Mismatch)

Estudos sobre superdotação frequentemente descrevem um “descompasso” ou “discrepância” entre o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento social/emocional, o que pode causar dificuldades de adaptação e de comunicação. Por exemplo, uma criança superdotada pode ser intelectualmente muito avançada, mas socialmente imatura, o que gera dificuldades de interação e compreensão por parte de seus pares e adultos. Trabalhos como os de Silverman (1993) discutem o impacto desse descompasso.

2. Sobre-excitabilidade Intelectual (Intellectual Overexcitability

Teorias como a de Kazimierz Dabrowski sobre a “Desintegração Positiva” abordam a “sobre-excitabilidade intelectual” (intellectual overexcitability) como uma característica de superdotados. Essa sobre-excitabilidade refere-se à tendência de pessoas superdotadas pensarem de maneira muito mais intensa, complexa e abstrata, o que pode dificultar a comunicação com aqueles que não possuem a mesma capacidade. O conceito é amplamente estudado em psicologia e educação de superdotados.

3. Teoria da Desintegração Positiva (Positive Disintegration Theory)

A teoria de Dabrowski sugere que pessoas com alto potencial intelectual podem passar por intensas crises de desenvolvimento devido à sua hipersensibilidade emocional e intelectual. Esses indivíduos frequentemente experimentam um “gap” entre suas capacidades cognitivas e a capacidade de encontrar pares com quem possam se comunicar adequadamente, resultando em sentimentos de alienação ou incompreensão. Esta teoria aborda a discrepância na forma como o mundo interno e as interações externas são vivenciadas.

4. Teoria das Duas Excepcionalidades (Twice-Exceptional)

O conceito de twice-exceptional aborda indivíduos que são superdotados, mas têm também algum tipo de dificuldade ou transtorno (como dislexia, TDAH ou transtorno do espectro autista), o que agrava ainda mais a discrepância entre suas capacidades intelectuais e suas habilidades sociais e comunicativas. O estudo das duas excepcionalidades tem explorado como a disparidade cognitiva-social pode levar a dificuldades de adaptação e comunicação.

5. Problemas de Comunicação e Isolamento Intelectual

Alguns estudos, como os de Gross (2004), exploram o isolamento social de superdotados, particularmente aqueles com habilidades intelectuais muito superiores à média. O isolamento surge, em parte, devido à dificuldade de compartilhar pensamentos e ideias complexas de maneira compreensível para os outros, levando à sensação de “desconexão” ou alienação social.

6. Intersubjetividade Limitada

Na área de filosofia da mente e psicologia cognitiva, há discussões sobre a intersubjetividade limitada, onde a dificuldade em compartilhar e comunicar experiências ou pensamentos complexos resulta em um “vácuo” entre o emissor e o receptor. Isso reflete a experiência de superdotados que, devido ao alto nível de abstração de seus pensamentos, não conseguem transmitir suas ideias de forma que outros compreendam plenamente.

Esses estudos formam uma base para compreender as dificuldades de comunicação enfrentadas por superdotados e o fenômeno que você mencionou como “discrepância cognitiva”. Embora o termo específico possa não aparecer diretamente, as questões relacionadas à diferença entre capacidades cognitivas e a compreensão pelos outros são amplamente documentadas.

7. Interferência Intelectual

Em meu conceito, a interferência intelectual, assim como a discrepância cognitiva, é um fenômeno comum na vida dos superdotados, já que seus cérebros funcionam de forma mais eficiente em termos de lógica, análise, abstração, criatividade e literalidade. Ao examinar cada linha de raciocínio, surgem múltiplas vertentes e nuances que, em muitos casos, não são percebidas por outras pessoas. A simplificação pode ser uma forma de objetividade, mas muitas ideias possuem diversas camadas e interpretações, o que frequentemente gera interferências na comunicação, levando à banalização do conteúdo original.

No diálogo, pode haver uma concordância superficial, mas a intenção de aprofundamento raramente é acompanhada. Mesmo que o interlocutor não compreenda totalmente, o superdotado pode continuar tentando explorar a subjetividade da ideia, buscando aprimorar e refazer o conceito de forma mais acessível. Ainda assim, a necessidade de transmitir a mensagem prevalece, e o limite do entendimento é superado pela insistência em explicar. A desistência acontece somente após repetidas tentativas, muitas vezes com a sensação de frustração por não conseguir transmitir o raciocínio de maneira eficaz.

Um exemplo hipotético seria uma conversa entre três adultos, sendo um deles superdotado, e uma criança também superdotada. Dois adultos típicos preferem um país com um idioma semelhante ao nativo, por acreditarem que entenderiam melhor. O adulto superdotado, porém, prefere um país com um idioma diferente, argumentando que seria mais fácil falar outra língua. Os adultos típicos não compreendem essa perspectiva, enquanto a criança superdotada, apesar de não saber explicar o motivo, entende a linha de raciocínio. Ela percebe que mudar completamente para um novo idioma é mais eficiente do que lidar com palavras parecidas que poderiam causar confusão.

Então, o adulto superdotado explica que, ao utilizar outro idioma, o cérebro ativa diferentes regiões, o que melhora a fluidez da comunicação, ao invés de se preocupar com comparações constantes entre palavras similares. A criança, sem saber exatamente por que, já havia compreendido essa subjetividade, enquanto os adultos típicos não conseguiram captar o raciocínio abstrato.

Foto de Kyle Gregory Devaras na Unsplash

Alguns destaques

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