O papel dos metabólitos do ácido araquidônico no desenvolvimento do Transtorno do Espectro Autista: uma nova perspectiva

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição complexa e multifatorial que afeta o desenvolvimento neurológico e se manifesta por meio de desafios na comunicação social e comportamentos repetitivos. A etiologia do TEA permanece um enigma, mas a crescente evidência sugere uma forte associação com desregulações no metabolismo lipídico e processos inflamatórios.

Um estudo recente da Cohorte de Nascimento de Hamamatsu para Mães e Crianças (HBC) no Japão investigou a relação entre metabólitos de ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs) no sangue do cordão umbilical e sintomas de TEA em crianças aos 6 anos de idade. Os resultados revelaram uma associação significativa entre níveis elevados de dihidroxi-eicosatrienoatos (diHETrEs), derivados do ácido araquidônico (AA), e a gravidade dos sintomas de TEA, particularmente em meninas. O estudo também identificou uma correlação entre níveis mais altos de 11,12-diHETrE e dificuldades de adaptação social, sugerindo um papel crucial desses metabólitos na trajetória de desenvolvimento de crianças com TEA.

Esses achados corroboram a hipótese de que a ativação imune materna e a neuroinflamação fetal desempenham um papel importante na patogênese do TEA. O diHETrE, um metabólito com propriedades pró-inflamatórias, pode atuar como um mediador chave nesse processo, afetando o desenvolvimento do sistema nervoso central e contribuindo para o surgimento dos sintomas do TEA.

Embora mais pesquisas sejam necessárias para elucidar os mecanismos precisos envolvidos, o estudo da Cohorte HBC abre novas perspectivas para a compreensão da etiologia do TEA e o desenvolvimento de estratégias preventivas e terapêuticas. A identificação de biomarcadores precoces, como o diHETrE, pode permitir a intervenção precoce e o acompanhamento personalizado de crianças em risco, potencialmente melhorando seus resultados de desenvolvimento e qualidade de vida.

O que é o dihidroxi-eicosatrienoatos (diHETrEs) e o que faz?

Os dihidroxi-eicosatrienoatos (diHETrEs) são metabólitos do ácido araquidônico (AA), um ácido graxo ômega-6 presente em membranas celulares. O AA é convertido em epóxi-eicosatrienoatos (EETs) por enzimas do citocromo P450 e, posteriormente, em diHETrEs pela enzima solúvel epóxido hidrolase (sEH).

Funções dos diHETrEs:

– Mediadores inflamatórios: O artigo destaca que os diHETrEs, apesar de terem baixa atividade biológica em comparação com seus precursores, os EETs, possuem propriedades pró-inflamatórias. Essa característica inflamatória pode ser crucial na associação observada entre níveis elevados de diHETrEs e sintomas de TEA, possivelmente através da ativação imune materna e neuroinflamação fetal.

– Outras funções: O texto menciona que o 11,12-diHETrE, um tipo específico de diHETrE, apresenta um potente efeito vasodilatador e que o 14,15-diHETrE está envolvido no metabolismo lipídico e na sinalização inflamatória. No entanto, a compreensão completa das funções biológicas dos diHETrEs ainda requer mais investigação.

Em resumo, os diHETrEs são metabólitos do ácido araquidônico com propriedades pró-inflamatórias que podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento do TEA, possivelmente através da modulação da resposta imune e da neuroinflamação.

Referências:

Hirai T, Umeda N, Harada T, et al. Arachidonic acid-derived dihydroxy fatty acids in neonatal cord blood relate symptoms of autism spectrum disorders and social adaptive functioning: Hamamatsu Birth Cohort for Mothers and Children (HBC Study). Psychiatry Clin Neurosci. 2024;00:1–9. https://doi.org/10.1111/pcn.13710

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