O intestino tem relação com o autismo? Especialista explica

Nos últimos anos, a busca por entender a relação entre o intestino e o autismo tem crescido, tanto na mídia quanto na ciência.. Perturbações gastrointestinais, como diarreia, obstipação e cólon irritável, têm sido observadas em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), ocorrendo mais do que em crianças sem o transtorno. Curiosamente, a gravidade do autismo muitas vezes está correlacionada com a severidade dos distúrbios intestinais e vice-versa. Estudos indicam que quando as perturbações gastrointestinais são tratadas, ocorrem melhorias no comportamento dos pacientes autistas. Essa conexão tem despertado o interesse dos pesquisadores, especialmente em relação à microbiota intestinal.

Segundo a médica Dra. Lorena Balestra, que estudou o tema sob a orientação do Pós PhD em Neurociências Dr. Fabiano de Abreu Agrela, e motivado pelo projeto RG-TEA pró-autismo, pacientes autistas frequentemente apresentam permeabilidade intestinal, inflamação e perturbações intestinais e neurológicas associadas a uma resposta exacerbada ao estresse. A teoria de que o desequilíbrio da microbiota intestinal seria a causa do autismo ganhou destaque na mídia, mas os cientistas australianos alertam para não confundir causa e consequência. Estudos publicados na revista Cell revelaram que são os componentes alimentares das pessoas autistas que interferem em suas microbiotas, e não o contrário.

Em uma extensa pesquisa envolvendo 247 crianças australianas, incluindo 99 com diagnóstico de autismo e 148 não, os cientistas analisaram a composição bacteriana presente nas amostras, levando em consideração fatores como consistência das fezes, alimentação, sexo e idade. O diagnóstico de autismo não apresentou associação significativa com a composição da microbiota intestinal.

No entanto, o estudo revelou que a composição da microbiota das crianças autistas está fortemente ligada à alimentação, consistência das fezes e idade. É comum que crianças autistas tenham uma preferência por determinados alimentos, consumindo-os repetidamente, além de apresentarem desafios em relação a gostos, cheiros e texturas. Isso resulta em uma alimentação menos diversificada e, consequentemente, uma redução na diversidade da microbiota intestinal, o que pode levar a fezes mais moles.

Embora a fisiopatologia do TEA ainda seja incerta, estudos apontam que as comorbidades associadas ao autismo têm origem multifatorial, envolvendo interações entre fatores genéticos, nutricionais, ambientais e epigenéticos.

Mas para ajudar a melhorar a ingestão de nutrientes em autistas com seletividade alimentar, e melhorar esses sintomas, a Dra. Balestra oferece algumas dicas práticas:

1. Consulte um profissional de saúde especializado em TEA e nutrição para orientações personalizadas.

2. Introduza gradualmente alimentos novos na dieta, respeitando as preferências individuais.

3. Ofereça opções nutricionalmente equilibradas, variadas em cores, sabores e texturas.

4. Considere a suplementação adequada de nutrientes, se necessário, sempre sob orientação médica.

5. Explore estratégias sensoriais para tornar a alimentação mais atraente, como apresentar os alimentos de maneiras diferentes (cortados em formatos divertidos, por exemplo).

6. Incentive a participação da criança no processo de preparação das refeições, tornando-o mais envolvente e estimulante.

7. Busque o apoio de grupos de pais ou comunidades online para compartilhar experiências e dicas úteis.

Embora a relação entre o intestino e o autismo ainda seja complexa, compreender a importância da alimentação diversificada e adequada para a microbiota intestinal é fundamental. Promover hábitos alimentares saudáveis e fornecer os nutrientes necessários pode contribuir para o bem-estar geral das pessoas com TEA. Lembre-se sempre de buscar orientação médica especializada para um acompanhamento adequado e individualizado.

Sobre a Dra. Lorena Balestra

Lorena é médica pós-graduada em nutrologia e endocrinologia. Em 2013 fez um workshop de biologia molecular na Michigan State University, em Michigan. É pesquisadora no CPAH – Centro de Pesquisa e Análises Heráclito.

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