O estudo da superdotação, uma condição caracterizada por um Quociente de Inteligência (QI) significativamente acima da média, tem sido objeto de crescente interesse na comunidade científica. A pesquisa recente tem se aprofundado na análise das diferenças entre indivíduos superdotados, com QI duas unidades de desvio padrão (DP) acima da média (2DP), e aqueles com superdotação profunda, com QI três DP acima da média (3DP). Os resultados apontam para um cenário de notável heterogeneidade, com implicações importantes para a compreensão e o apoio a esses indivíduos.
Indivíduos 2DP, embora demonstrem alta capacidade intelectual, frequentemente apresentam um perfil cognitivo marcado por uma atividade intensificada na região frontal do cérebro. Essa característica, associada a funções executivas e controle de impulsos, pode levar ao perfeccionismo mal-adaptativo e a uma criatividade mais focada na aplicação de conhecimentos pré-existentes do que na geração de ideias inovadoras. Em contrapartida, indivíduos 3DP exibem perfis cognitivos mais uniformes, com maior capacidade para o pensamento divergente e a exploração de ideias originais. Essa maior flexibilidade cognitiva está associada a uma inteligência emocional mais desenvolvida e a uma criatividade que se expressa na busca por soluções inovadoras em áreas diversas.
As diferenças entre os dois grupos também se manifestam no âmbito comportamental e educacional. Indivíduos 3DP, apesar de seu elevado potencial intelectual, podem enfrentar desafios educacionais mais pronunciados devido à intensidade de suas características emocionais e comportamentais. A dinâmica familiar também desempenha um papel importante, com mães de indivíduos 3DP tendendo a oferecer maior autonomia e menos pressão por desempenho acadêmico. Em contraste, indivíduos 2DP frequentemente relatam maior pressão dos pais por resultados escolares, o que pode impulsionar seu desempenho, mas também gerar ansiedade e estresse.
Em suma, a pesquisa sobre a superdotação revela um panorama complexo e multifacetado, com indivíduos 2DP e 3DP apresentando características e necessidades distintas. A compreensão dessas nuances é fundamental para o desenvolvimento de intervenções educacionais e clínicas eficazes, que promovam o desenvolvimento integral e o bem-estar desses indivíduos. Futuros estudos devem se aprofundar nas bases neurobiológicas da superdotação, na interação entre fatores genéticos e ambientais no desenvolvimento da inteligência e da criatividade, e no impacto de diferentes abordagens educacionais e terapêuticas no bem-estar e sucesso de indivíduos com alto QI. (Rodrigues et al., 2024)
Referência:
Rodrigues, F. A. A., Silveira, F. M. da, Avila, E., & Brennan, S. I. M. U. (2024). Behavioral and cognitive differences between gifted individuals and those with extremely high IQ – people at 2SD and 3SD. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, 8(3), 6411–6426. https://doi.org/10.37811/cl_rcm.v8i3.11831