Há 1,5 milhão de anos, os ancestrais humanos usavam ossos de hipopótamo para fazer ferramentas

Novas evidências descobertas no leste da África indicam que os antigos hominídeos começaram a criar ferramentas a partir de ossos de animais muito antes do que se pensava. Se confirmado, nossos ancestrais humanos começaram a moldar ossos batendo neles em ângulos específicos em um processo conhecido como knapping há cerca de 1,5 milhão de anos.

As descobertas vêm depois que arqueólogos paleolíticos liderados por Ignacio de la Torre no Conselho Nacional de Pesquisa Espanhol (CSIC) analisaram fragmentos ósseos do sítio Olduvai Gorge no norte da Tanzânia. Localizado no Grande Vale do Rift e se estendendo por aproximadamente 29 milhas através das Planícies do Serengeti, o Olduvai Gorge é considerado um dos mais importantes tesouros paleoantropológicos até hoje, e avançou nossa compreensão da vida humana primitiva desde sua descoberta há mais de um século.

Nesta descoberta, os paleoarqueólogos descobriram 27 ferramentas derivadas principalmente de ossos antigos de hipopótamos e elefantes, medindo até 1,25 pés de comprimento. Como a equipe explicou em seu estudo publicado em 5 de março no periódico Nature , as novas informações implicam que as habilidades dos hominídeos para adaptação e criação se estendem muito mais para trás em nossa linha do tempo evolutiva.

Antes das últimas descobertas do desfiladeiro de Olduvai, a evidência mais antiga da produção sistemática de ferramentas de osso trabalhadas com técnicas de lascamento veio de sítios europeus datados entre 400.000 e 250.000 anos atrás. Enquanto isso, aqueles encontrados em contextos africanos paleoantropológicos pré-Idade da Pedra Média foram “amplamente considerados como episódicos, convenientes e não representativos dos primeiros kits de ferramentas Homo “. Os ossos do desfiladeiro de Olduvai, no entanto, não parecem ter sido moldados aleatoriamente, mas, em vez disso, exibem uma uniformidade que indica uma metodologia e estratégia praticadas.

“Excelente compreensão da mecânica da fratura óssea é demonstrada pelo uso preferencial de ossos frescos de grandes mamíferos e pela aplicação de procedimentos recorrentes de lascamento”, escreveram os pesquisadores, acrescentando que: “Modelos mentais são sugeridos pela produção de ferramentas ósseas morfologicamente semelhantes, alongadas, pontiagudas e entalhadas.”

Não é apenas a idade das ferramentas de osso que é impressionante para os pesquisadores, mas seu contexto histórico geral. Os autores do estudo acreditam que integrar o material em antigos kits de ferramentas de hominídeos há pelo menos 1,5 milhão de anos os coloca em um “momento crucial na evolução das adaptações culturais africanas”, particularmente no final do período Oldowan e no início do período Acheuliano.

Esses desenvolvimentos “podem ter tido um efeito profundo na complexificação dos repertórios comportamentais observados no último período”, incluindo habilidades cognitivas aprimoradas, curadoria de ferramentas e técnicas de coleta de matéria-prima.