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A corrida global pelos robôs humanoides: quem vai liderar?

por Tales Santos

Robôs com aparência humana estão deixando de ser ficção científica para se tornarem um setor bilionário em rápida expansão — e a disputa pela liderança global envolve China, Estados Unidos e Europa.

Na feira Hannover Messe, uma das maiores exposições industriais do mundo, o G1, robô humanoide da chinesa Unitree, chama atenção. Com 1,30 metro de altura, ele é mais compacto, acessível e ágil que muitos de seus concorrentes. Vídeos do G1 realizando movimentos complexos, como danças e artes marciais, viralizaram nas redes sociais.

No evento, ele é controlado remotamente por Pedro Zheng, gerente da Unitree, que explica: o G1 é voltado a empresas e centros de pesquisa, que podem programá-lo para funções autônomas usando seu software de código aberto.

Com seu formato humano, o G1 desperta curiosidade e empatia. Visitantes interagem com ele instintivamente — estendem a mão, fazem perguntas, pedem desculpas se esbarram. Essa conexão emocional é uma das apostas por trás do avanço dos humanoides.

A Unitree é apenas uma das cerca de 50 empresas no mundo que desenvolvem robôs com braços e pernas. Se considerados os que se locomovem sobre rodas, esse número passa de 100, segundo o pesquisador Thomas Andersson, da consultoria STIQ.

Um mercado promissor, mas ainda incipiente

O potencial dos robôs humanoides é imenso: eles podem operar em fábricas, realizar tarefas domésticas e substituir trabalhadores em funções repetitivas. Mas há obstáculos. Fora do ambiente controlado de armazéns, robôs enfrentam desafios de mobilidade, segurança e, principalmente, inteligência artificial.

“A IA robótica atual ainda luta para realizar raciocínios básicos e interpretar tarefas complexas”, afirmou a Unitree à BBC. O risco de um robô forte cair no lugar errado ou não interpretar corretamente uma situação é alto.

Por isso, hoje os humanoides são direcionados principalmente a ambientes industriais, como fábricas e centros de logística.

Tesla, Hyundai, BMW: gigantes entram na disputa

Nos Estados Unidos, Elon Musk lidera os esforços com o robô Optimus, da Tesla. O bilionário anunciou que milhares de unidades devem ser construídas ainda este ano, para operar nas fábricas da empresa.

Outras montadoras seguem o mesmo caminho. A BMW já implantou robôs humanoides em fábricas nos EUA. A sul-coreana Hyundai, por sua vez, investiu pesadamente na Boston Dynamics, adquirida em 2021.

Mas é a China que se posiciona na dianteira. Andersson aponta que o país tem uma cadeia de suprimentos robusta e um ecossistema favorável à pesquisa e desenvolvimento. Quase 60% dos investimentos em robôs humanoides vêm da Ásia, com destaque para o apoio governamental em cidades como Xangai, onde robôs são treinados em centros financiados pelo Estado.

O G1 da Unitree custa cerca de US$ 16 mil — uma fração do valor de concorrentes ocidentais — e simboliza a vantagem chinesa na produção em escala.

A resposta europeia: soluções práticas

Na Europa, empreendedores buscam alternativas viáveis para competir. Em Bristol, no Reino Unido, Bren Pierce lidera a startup Kinisi, que acaba de lançar o robô KR1.

Ao contrário dos humanoides tradicionais, o KR1 não tem pernas. Ele se locomove sobre rodas, o que reduz o custo e simplifica a operação em ambientes como armazéns. “Por que complicar com pernas se o piso é plano?”, questiona Pierce.

Ele aposta em componentes prontos e baratos — as rodas, por exemplo, são de scooters elétricas. A filosofia é clara: usar peças comerciais e investir em software amigável.

“O diferencial é o software. Muitos robôs exigem formação especializada. O KR1 pode ser ensinado por um trabalhador comum em poucas horas”, explica. Após 20 a 30 demonstrações humanas, o robô já é capaz de repetir a tarefa.

A Kinisi entregará os primeiros KR1 a clientes-piloto ainda este ano. Mas quando os robôs chegarão às casas?

“Meu sonho sempre foi construir um robô que fizesse tudo. Mas isso ainda está a pelo menos 10 ou 15 anos de distância”, admite Pierce.

Alguns destaques

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