Neurociência e ritmo: Compreendendo a influência de certos ritmos que nos fazem querer dançar

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Já se viu batendo o pé ou balançando a cabeça ao ritmo de uma música contagiante, aparentemente sem qualquer esforço? Acontece que há uma explicação científica por trás do nosso desejo instintivo de nos movermos junto com a música. Um estudo recente, publicado na Science Advances, lança luz sobre por que certos ritmos nos fazem querer dançar mais do que outros.

Por meio de uma análise da atividade cerebral e da sensação conhecida como ‘groove’, os pesquisadores descobriram que um ritmo de complexidade moderada desencadeia o maior desejo de se movimentar. Esse desejo é refletido em nossos cérebros, especialmente dentro do córtex sensorimotor esquerdo, indicando uma relação profundamente interligada entre ações motoras e processos sensoriais.

Estudos anteriores mostraram que mesmo sem movimento físico real, a percepção de música rítmica pode ativar áreas do cérebro associadas ao movimento, como os córtices premotores e os gânglios da base. Essa ativação sugere uma ligação entre como processamos o tempo por meio do movimento e como percebemos a música.

Baseando-se nessas descobertas, os autores do estudo buscaram desvendar os mecanismos neurofisiológicos por trás do groove, investigando como mudanças nas propriedades rítmicas da música poderiam induzir o envolvimento motor por meio de alterações na dinâmica neural áudio-motora.

“Na fala e na música, o ritmo parece ser um parâmetro crucial para capturar informações sensoriais auditivas. Além disso, estudos anteriores implicaram a área cortical dedicada ao motor na percepção do tempo. Inicialmente, pretendíamos investigar as implicações dessas dinâmicas motoras na percepção auditiva”, disse Arnaud Zalta, o primeiro autor do estudo e pesquisador pós-doutorado na ENS-PSL.

Para explorar essas dinâmicas, os pesquisadores conduziram uma série de experimentos envolvendo 111 participantes em diferentes configurações, incluindo pesquisas online, sessões de magnetoencefalografia (MEG) e tarefas de batidas de controle. Os participantes tinham idades entre 19 e 71 anos, com maioria do sexo feminino, e foram selecionados independentemente de seu histórico musical ou de dança.

No cerne desses experimentos estava uma coleção de 12 melodias originais, cada uma manipulada para variar em previsibilidade rítmica ajustando o grau de sincopação. Sincopação, neste contexto, refere-se à interrupção do ritmo regular ao colocar acentos em batidas fracas, criando um “soluço” musical que desafia as expectativas temporais do ouvinte.

Na componente da pesquisa online, os participantes ouviram cada melodia através de fones de ouvido e classificaram seu nível de groove em uma escala Likert, expressando quanto se sentiram inclinados a dançar. Essa tarefa visava capturar a experiência subjetiva do groove em um ambiente online controlado e flexível.

No laboratório, o experimento de MEG aprofundou-se nos fundamentos neurológicos do groove. Os participantes ouviram o mesmo conjunto de melodias enquanto sua atividade cerebral era registrada usando MEG, uma técnica capaz de detectar os campos magnéticos gerados pela atividade neural. Isso permitiu aos pesquisadores observar como diferentes ritmos influenciavam a dinâmica cerebral, especialmente em áreas associadas ao movimento e ao processamento auditivo.

Finalmente, a tarefa de batidas de controle forneceu um contraponto comportamental aos dados de imagem cerebral. Os participantes batiam ritmicamente nas teclas do teclado ao ritmo das melodias, oferecendo uma medida tangível de seu envolvimento motor com a música.

Os pesquisadores descobriram que nosso desejo de dançar, ou a sensação de groove, é mais fortemente provocado por melodias com um nível médio de sincopação. Isso sugere que ritmos que alcançam um equilíbrio entre previsibilidade e complexidade rítmica são os mais eficazes em induzir o desejo de dançar.

Além disso, o estudo revelou que essa sensação de groove está intimamente ligada a padrões específicos de atividade cerebral, particularmente dentro do córtex sensorimotor esquerdo. Esta região cerebral mostrou maior engajamento quando os participantes foram expostos

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