Por Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues
1. Introdução
A memória, como um dos pilares centrais da cognição, permite que seres humanos e animais retenham e recuperem informações. Este artigo aborda os intricados mecanismos genéticos, moleculares, celulares e de circuito que sustentam a formação, armazenamento e recuperação de memórias.
2. Mecanismos Moleculares na Memória
2.1 Genes e Expressão Proteica
A expressão induzida de genes, como c-fos e zif268, é crítica para identificar células de engrama envolvidas na codificação da memória. Estas proteínas catalisam modificações sinápticas duradouras que sustentam memórias de longo prazo (Alberini, 2009).
2.2 Neurotransmissores
- Glutamato: O principal neurotransmissor excitatório, fundamental para a LTP e a transmissão sináptica (Collingridge et al., 1983).
- GABA: Neurotransmissor inibitório que regula a excitabilidade neuronal.
- Acetilcolina: Crucial para a memória e atenção, com papel importante no hipocampo e córtex.
- Dopamina: Influencia a motivação, recompensa e consolidação de memórias associativas (Lisman & Grace, 2005).
- Serotonina: Regula o humor, consolidação da memória e processamento emocional.
3. Plasticidade Sináptica e Armazenamento de Memória
A potenciação de longa duração (LTP) está no cerne da codificação da memória, fortalecendo as conexões sinápticas e facilitando a formação de circuitos robustos de memória (Bliss & Collingridge, 1993).
4. Circuitos e Regiões Cerebrais na Codificação e Recuperação da Memória
4.1 Hipocampo
Central para a memória episódica, o hipocampo tem regiões, como o Giro Denteado e CA1, que são vitais para a formação e recuperação da memória (Eichenbaum, 2000).
4.2 Córtex
O córtex pré-frontal é vital para a memória de trabalho, enquanto áreas sensoriais do córtex facilitam a recuperação de memórias específicas.
4.3 Amígdala
Esta região é crucial para memórias emocionais e também modula a consolidação de memórias no hipocampo (Phelps, 2004).
5. Processos de Consolidação e Reconsolidação
Após a codificação inicial, a memória é estabilizada via consolidação, enquanto a reconsolidação permite a modulação de memórias existentes (Nader et al., 2000).
6. Perspectivas Futuras
A natureza multifacetada da memória exige investigações contínuas para elucidar mecanismos ainda não compreendidos, como os processos exatos que governam a formação de engramas e sua relação com comportamentos complexos.
Conclusão
Entender a neurobiologia da memória é fundamental para avanços em neuropsicologia, medicina e terapêutica. As descobertas atuais pavimentam o caminho para terapias futuras para distúrbios da memória.
Referências
- Alberini, C. M. (2009). Transcription factors in long-term memory and synaptic plasticity. Physiological Reviews, 89(1), 121-145.
- Bliss, T. V. P., & Collingridge, G. L. (1993). A synaptic model of memory: long-term potentiation in the hippocampus. Nature, 361(6407), 31-39.
- Collingridge, G. L., Kehl, S. J., & McLennan, H. (1983). Excitatory amino acids in synaptic transmission in the Schaffer collateral-commissural pathway of the rat hippocampus. Journal of Physiology, 334, 33-46.
- Eichenbaum, H. (2000). A cortical-hippocampal system for declarative memory. Nature Reviews Neuroscience, 1(1), 41-50.
- Lisman, J. E., & Grace, A. A. (2005). The hippocampal-VTA loop: controlling the entry of information into long-term memory. Neuron, 46(5), 703-713.
- Nader, K., Schafe, G. E., & Le Doux, J. E. (2000). Fear memories require protein synthesis in the amygdala for reconsolidation after retrieval. Nature, 406(6797), 722-726.
- Phelps, E. A. (2004). Human emotion and memory: interactions of the amygdala and hippocampal complex. Current Opinion in Neurobiology, 14(2), 198-202.
Sobre Dr. Fabiano de Abreu
O Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, é um Pós-doutor e PhD em neurociências eleito membro da Sigma Xi, The Scientific Research Honor Society e Membro da Society for Neuroscience (USA) e da APA – American Philosophical Association, Mestre em Psicologia, Licenciado em Biologia e História; também Tecnólogo em Antropologia e filosofia com várias formações nacionais e internacionais em Neurociências e Neuropsicologia. Pesquisador e especialista em Nutrigenética e Genômica. É diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito (CPAH), Cientista no Hospital Universitário Martin Dockweiler, Chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, Membro ativo da Redilat, membro-sócio da APBE – Associação Portuguesa de Biologia Evolutiva e da SPCE – Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. Membro das sociedades de alto QI Mensa, Intertel, ISPE High IQ Society e Triple Nine Society. Autor de mais de 200 artigos científicos e 15 livros.