Início ColunaNeurociências Explicação neurogenômica para a frase do poeta Renato Russo: É tão estranho, on bons morrem jovens

Explicação neurogenômica para a frase do poeta Renato Russo: É tão estranho, on bons morrem jovens

A morte prematura de pessoas altruístas e gentis levanta questionamentos sobre a justiça da vida e a natureza da bondade.

por Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues

A frase “É tão estranho, os bons morrem jovens!” do poeta Renato Russo ecoa um sentimento universal de perplexidade e luto. A morte prematura de pessoas altruístas e gentis levanta questionamentos sobre a justiça da vida e a natureza da bondade.

É curioso refletir sobre a conexão entre bondade e destino, sobretudo no que concerne à juventude daqueles que partem cedo. Em uma perspectiva neurocientífica e genômica, poderíamos especular que a bondade emerge como uma característica biológica, profundamente enraizada na necessidade de equilíbrio e sobrevivência.

Esta visão sugere que o organismo, dotado de uma consciência inata, trabalha em harmonia com a função cerebral para manter a homeostase. A bondade, portanto, poderia ser vista não apenas como uma virtude moral, mas como um reflexo de um sistema biológico buscando equilíbrio e estabilidade. Sob esta ótica, a bondade manifesta-se como um comportamento adaptativo, vital para a interação e sobrevivência dentro de um grupo ou comunidade.

Assim, os que nos deixam prematuramente, marcados pela bondade, talvez revelem uma interação complexa entre seu organismo e o meio, onde a preservação da harmonia interna e externa se torna um elemento central de suas existências.

Minha concepção se ancora em elementos subjetivos e em seu contraponto, refletindo que, em situações de doença, a meditação sobre a finitude pode modificar a conduta, inclinando-a para uma maior altruísmo, possivelmente como uma solicitação de auxílio implícita. Além disso, considero a existência de uma inteligência intrínseca ao próprio organismo, ainda que não percebida pela mente consciente, voltada para a procura de estabilidade e homeostase.

Do ponto de vista neurocientífico e genômico, algumas hipóteses tentam explicar essa triste realidade:

1. Fatores genéticos:

  • Genes altruístas: Estudos sugerem que genes específicos podem predispor à bondade e ao altruísmo. Indivíduos com esses genes podem ter maior propensão a se colocarem em risco para ajudar os outros, aumentando o risco de morte prematura.
  • Mutações genéticas: Mutações raras podem levar a doenças genéticas que afetam o desenvolvimento cerebral e o comportamento, predispondo a comportamentos altruístas e, consequentemente, a um maior risco de morte.

2. Fatores neurobiológicos:

  • Desequilíbrios químicos: Alterações nos níveis de neurotransmissores como dopamina e serotonina podem influenciar o comportamento altruísta. Indivíduos com níveis mais altos desses neurotransmissores podem ser mais propensos a se colocar em risco para ajudar os outros.
  • Estrutura cerebral: Diferenças na estrutura cerebral, como um volume maior de áreas relacionadas à empatia e ao altruísmo, podem predispor a comportamentos de ajuda ao próximo, mesmo em situações de perigo.

3. Teoria do Equilíbrio “Organismal”:

  • A bondade pode ser vista como um mecanismo de equilíbrio para a sobrevivência da espécie. Indivíduos altruístas promovem a coesão social e o bem-estar do grupo, aumentando as chances de sucesso e perpetuação da espécie.
  • A consciência subjetiva e a busca pela homeostase podem levar a comportamentos altruístas como forma de manter o equilíbrio social e garantir a sobrevivência do grupo.

É importante ressaltar que essas são apenas hipóteses e ainda não há uma resposta definitiva para a questão de por que os bons morrem jovens. Diversos fatores, como ambiente social, estilo de vida e escolhas pessoais, também influenciam o comportamento e a longevidade.

A morte de pessoas boas, independentemente da idade, é sempre uma perda dolorosa. Devemos lembrar que a bondade é uma virtude que contribui para a construção de um mundo melhor, e que a memória daqueles que se foram cedo deve ser honrada através de seus atos e legado.

A ideia de que pessoas doentes podem se tornar mais altruístas se encaixa em um campo de estudo interdisciplinar que abrange a psicologia, a biologia evolutiva e a neurociência. No entanto, deve-se notar que esta é uma área complexa e as relações entre doença, comportamento altruístico e mecanismos de sobrevivência não são diretas ou universalmente aceitas. Vamos explorar alguns conceitos relevantes:

  1. Estratégia Altruísta Adaptativa em Modelos Cíclicos Durante Epidemias: Este estudo investiga um sistema de jogo cíclico em que os organismos enfrentam uma epidemia, além de ameaças naturais. Mostra que adaptações na estratégia de movimento para sobrevivência em face de doenças mais mortais exigem um comportamento altruísta dos organismos, aumentando o risco de morte deles próprios, mas beneficiando a espécie como um todo (Menezes et al., 2022).
  2. Altruísmo e Auto-Remoção Altruísta em Trabalhadores de Abelhas: Este estudo descreve a auto-remoção altruísta de trabalhadores de abelhas doentes de suas colônias como uma forma de prevenir a transmissão de doenças, sugerindo um comportamento altruísta que beneficia o grupo em detrimento do indivíduo (Rueppell, Hayworth & Ross, 2010).
  3. Altruísmo em Participantes de Ensaios Clínicos de Câncer: Este estudo analisa as motivações dos participantes em ensaios clínicos de câncer, destacando que, embora o altruísmo seja uma motivação comum, raramente é a principal razão para a participação, especialmente em fases iniciais do ensaio e em participantes com prognósticos ruins (Truong et al., 2011).
  4. A Influência do Altruísmo nas Decisões de Vacinação Contra a Gripe: Este estudo explora a importância do altruísmo nas decisões de vacinação, revelando que a motivação altruísta desempenha um papel significativo, embora frequentemente negligenciado em modelos epidemiológicos e políticas de vacinação (Shim et al., 2012).

Em resumo, enquanto existem teorias e estudos que exploram a relação entre doença e comportamento altruísta, é importante abordar essas ideias com cautela. A relação entre doença, altruísmo e mecanismos de sobrevivência é complexa e varia de pessoa para pessoa. É uma área fascinante de pesquisa que continua a evoluir.

Referências

  1. Menezes, J., Ferreira, B., Rangel, E., & Moura, B. (2022). Adaptive altruistic strategy in cyclic models during an epidemic. Europhysics Letters, 140.
  2. Rueppell, O., Hayworth, M. K., & Ross, N. P. (2010). Altruistic self‐removal of health‐compromised honey bee workers from their hive. Journal of Evolutionary Biology, 23.
  3. Truong, T., Weeks, J., Cook, E., Joffe, S. (2011). Altruism among participants in cancer clinical trials. Clinical Trials, 8, 616-623.
  4. Shim, E., Chapman, G., Townsend, J., & Galvani, A. (2012). The influence of altruism on influenza vaccination decisions. Journal of The Royal Society Interface, 9, 2234-2243.

CPAH – Centro de Pesquisa e Análises Heráclito

O CPAH, que significa Centro de Pesquisa e Análises Heráclito, é uma instituição dedicada à excelência em pesquisas, laboratório avançado, formação de pesquisadores, publicação de revista científica, recolocação profissional, registro de método, capacitação profissional e oferta de cursos especializados.

Destacamo-nos como os criadores do inovador projeto GIP – Genetic Intelligence Project, pioneiro na elaboração do primeiro relatório de inteligência por meio de testes genéticos, proporcionando uma estimativa precisa do QI humano.

Convidamos você a explorar mais sobre nossas atividades e conquistas em www.cpah.eu. Estamos comprometidos em impulsionar a pesquisa, inovação e desenvolvimento profissional, contribuindo para o avanço da ciência e da inteligência humana.

Alguns destaques

Deixe um comentário

cinco × dois =

Translate »