A diabetes mellitus (DM), uma doença metabólica crônica caracterizada por níveis elevados de glicose no sangue, tem sido associada a um risco aumentado de demência, incluindo a doença de Alzheimer (DA) e a demência vascular (DV). Essa relação complexa envolve diversos mecanismos, como resistência à insulina, hiperglicemia, neuroinflamação e desregulação energética.
Estudos epidemiológicos têm demonstrado uma forte associação entre diabetes tipo 2 (DM2) e disfunção cognitiva, desde o comprometimento cognitivo leve até a demência. Essa relação se inicia na meia-idade e se intensifica com o tempo, sendo que a duração e a gravidade do diabetes influenciam significativamente o risco de desenvolver problemas cognitivos.
Embora a conexão entre DM2 e demência seja evidente, o impacto do tratamento do diabetes no risco de demência incidente ou na progressão do comprometimento cognitivo preexistente ainda é objeto de investigação. Diversas classes de medicamentos antidiabéticos têm sido estudadas, e os resultados apontam para efeitos variados entre elas.
A metformina, um dos medicamentos mais utilizados no tratamento do DM2, tem mostrado resultados promissores na redução do risco de demência. Estudos clínicos indicam que o uso de metformina pode melhorar as funções cognitivas em pacientes diabéticos, especialmente em doses mais altas e em pacientes mais jovens com níveis elevados de insulina. No entanto, mais pesquisas são necessárias para confirmar sua eficácia em comparação com outras classes de medicamentos, como as sulfonilureias.
Os inibidores da dipeptidil peptidase-4 (DPP-4) também têm se mostrado promissores na prevenção da demência em pacientes com DM2. Esses medicamentos, além de auxiliarem no controle glicêmico, parecem ter efeitos benéficos no funcionamento cognitivo.
Por outro lado, o uso de insulina, especialmente em altas doses e associado a episódios de hipoglicemia severa, tem sido associado a um risco aumentado de demência. A hipoglicemia severa, uma complicação do tratamento com insulina, pode levar a danos cerebrais e contribuir para o declínio cognitivo.
Novas abordagens terapêuticas, como o uso de agonistas do receptor ativado por proliferador de peroxissomo gama (PPARγ) e agonistas do receptor do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), têm demonstrado potencial para melhorar a sensibilidade à insulina e proteger a função cognitiva em pacientes com diabetes.
Em suma, a relação entre diabetes e demência é um campo de pesquisa em constante evolução, com novas descobertas e desafios a serem superados. O controle glicêmico adequado, o tratamento da resistência à insulina e a prevenção da hipoglicemia são estratégias importantes para reduzir o risco de demência em pacientes diabéticos. O desenvolvimento de novas terapias que visem não apenas o controle glicêmico, mas também a proteção da função cognitiva, representa uma área promissora na busca por melhores resultados para os pacientes. (Amaral et al., 2020; Macmillan et al., 2018; Tang et al., 2022; Willmann et al., 2020).
Referência:
AMARAL, Lara Medeiros et al. Associação entre o controle glicêmico em pacientes diabéticos e a redução no risco de demência: uma revisão de literatura. Brazilian Journal of Health Review, v. 3, n. 3, p. 6252-6259, 2020.
MACMILLAN, Jacqueline M.x et al. Impact of pharmacological treatment of diabetes mellitus on dementia risk: systematic review and meta-analysis. BMJ Open Diabetes Research and Care, v. 6, n. 1, p. e000563, 2018.
TANG, Xin et al. Use of oral diabetes medications and the risk of incident dementia in US veterans aged ≥60 years with type 2 diabetes. BMJ Open Diabetes Research and Care, v. 10, n. 5, p. e002894, 2022.
WILLMANN, Caroline et al. Insulin sensitivity predicts cognitive decline in individuals with prediabetes. BMJ Open Diabetes Research and Care, v. 8, n. 2, p. e001741, 2020.