Introdução:
O autismo é um espectro de condições neurológicas que afeta a maneira como as pessoas interagem com o mundo ao seu redor. Embora cada indivíduo autista seja único, existem algumas características comuns que podem ser desafiadoras tanto para a pessoa autista quanto para aqueles que a cercam. Entre essas características, destacam-se o burnout, a inércia, o meltdown e o shutdown, que podem ser particularmente difíceis de entender e gerenciar. Este artigo de opinião tem como objetivo lançar luz sobre essas experiências, com base em um estudo recente conduzido por Phung et al. (2021), que explorou as perspectivas de crianças e jovens autistas sobre o burnout, a inércia, o meltdown e o shutdown (BIMS).
Compreendendo o Burnout, a Inércia, o Meltdown e o Shutdown:
O burnout é um estado de exaustão física, emocional e mental que pode ser causado por estresse crônico, excesso de estímulos sensoriais e demandas sociais. Indivíduos autistas podem ser particularmente suscetíveis ao burnout devido às dificuldades na regulação emocional e sensorial. A inércia, por outro lado, é um estado de “paralisia” mental que pode tornar difícil para a pessoa autista iniciar ou concluir tarefas, mesmo aquelas que lhe interessam. O meltdown é uma reação intensa a uma situação estressante ou opressora, que pode se manifestar como uma explosão emocional, com gritos, choro ou agitação. O shutdown, por sua vez, é uma resposta de “congelamento” a uma situação estressante, na qual a pessoa autista pode se tornar não responsiva e retraída.
O Estudo de Phung et al. (2021): Desvendando as Perspectivas dos Jovens Autistas:
O estudo de Phung et al. (2021) oferece insights valiosos sobre como as crianças e jovens autistas vivenciam o BIMS. Os autores conduziram entrevistas individuais com oito participantes autistas, com idades entre 8 e 18 anos, que compartilharam suas experiências com o BIMS. Os resultados do estudo revelaram que o BIMS é uma experiência multifacetada que envolve componentes emocionais, cognitivos e físicos. Os jovens descreveram o meltdown como a experiência mais comum e angustiante, muitas vezes desencadeada por estresse, mudanças inesperadas em planos ou excesso de estímulos sensoriais.
Estratégias de Apoio:
Os participantes do estudo também compartilharam estratégias que consideram úteis para lidar com o BIMS. Entre as estratégias mencionadas, destacam-se o envolvimento em atividades divertidas, como brincar com Play-Doh, praticar esportes ou ouvir música, e a interação positiva com familiares, amigos e animais de estimação. Os jovens também enfatizaram a importância de os adultos ouvirem com atenção e oferecerem apoio durante os momentos difíceis.
Conclusões e Implicações:
O estudo de Phung et al. (2021) destaca a importância de compreender o BIMS a partir das perspectivas das próprias pessoas autistas. As descobertas do estudo têm implicações significativas para a prática clínica e educacional, sugerindo a necessidade de desenvolver intervenções personalizadas que levem em consideração as necessidades individuais de cada criança ou jovem autista. É fundamental que pais, educadores e profissionais de saúde trabalhem em colaboração com a pessoa autista para desenvolver estratégias de apoio que promovam a autorregulação, o bem-estar e a qualidade de vida.
Referência:
PHUNG, J.; PENNER, M.; PIRLOT, C.; WELCH, C. What I Wish You Knew: Insights on Burnout, Inertia, Meltdown, and Shutdown From Autistic Youth. Frontiers in Psychology, v. 12, p. 741421, 2021.