Como a decepção transforma o amor em rejeição: Mecanismos neurobiológicos subjacentes

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A transição do amor para a rejeição após uma decepção envolve processos neurobiológicos complexos, que refletem mudanças na dinâmica de neurotransmissores e na ativação de circuitos cerebrais específicos. Essas mudanças são críticas para entender como a experiência inicial de prazer e apego associada ao amor pode ser revertida para sentimentos de aversão e afastamento. A compreensão dessas dinâmicas é fundamental para a neurociência do comportamento social e dos relacionamentos humanos.

Alterações na via dopaminérgica e no sistema de recompensa

A dopamina, um neurotransmissor amplamente associado ao sistema de recompensa, desempenha um papel central no reforço de comportamentos pró-sociais e de apego em contextos de amor romântico. Durante a fase de apego, há uma ativação substancial das vias dopaminérgicas, particularmente no núcleo accumbens e em outras regiões do circuito mesolímbico, reforçando a sensação de prazer associada à presença da pessoa amada (Coria-Avila et al., 2014). Entretanto, após uma decepção, a percepção do estímulo social como recompensador é significativamente alterada, resultando em uma diminuição da liberação de dopamina. Essa redução modifica a percepção da interação, que deixa de ser percebida como prazerosa e passa a ser associada à dor emocional, levando à aversão e ao afastamento (Strathearn, 2011).

Impacto da oxitocina na transformação da aversão

A oxitocina, um neuropeptídeo fundamental na formação e manutenção de laços sociais, também desempenha um papel essencial na transição do amor para a rejeição. Durante os estágios iniciais de um relacionamento, a oxitocina promove comportamentos de confiança e apego, modulando positivamente a resposta do sistema de recompensa dopaminérgico. No entanto, evidências sugerem que, em situações de rejeição ou decepção, ocorre uma diminuição da liberação de oxitocina, o que contribui para uma modulação negativa das interações sociais. A diminuição da oxitocina tem sido associada à ativação da amígdala, uma região do cérebro responsável pelo processamento de ameaças e pela intensificação de emoções como medo e raiva. Essa ativação exacerba a percepção de ameaça associada à pessoa que causou a decepção, culminando em uma resposta emocional de afastamento abrupto (Kirsch et al., 2005).

Serotonina e a regulação do humor durante a rejeição

A serotonina, outro neurotransmissor envolvido na regulação do humor e das emoções, também está intimamente relacionada à resposta de rejeição. Níveis reduzidos de serotonina estão frequentemente associados à diminuição da capacidade de regular emoções negativas, como tristeza e raiva, o que pode intensificar a experiência de dor emocional durante a rejeição. Estudos indicam que a interação entre a dopamina e a serotonina é crítica para a transição de sentimentos de apego para aversão. Níveis baixos de serotonina contribuem para uma desregulação emocional que dificulta a superação da decepção, mantendo o indivíduo em um estado emocional de sofrimento prolongado (Love et al., 2012).

Papel da amígdala e do córtex pré-frontal

O aumento da ativação da amígdala após uma decepção está diretamente relacionado ao aumento da aversão social. A amígdala, uma estrutura crítica no processamento emocional, amplifica as respostas de medo e raiva associadas à rejeição, exacerbando a percepção de ameaça. Em paralelo, o córtex pré-frontal, que normalmente atua na regulação das emoções e no controle dos impulsos, pode ser temporariamente inibido em situações de estresse emocional elevado, como a rejeição. Essa inibição reduz a capacidade do indivíduo de processar racionalmente a situação, facilitando respostas abruptas de afastamento e aversão (Petereit et al., 2019).

Conclusão

A transformação do amor em rejeição é mediada por uma série de alterações neurobiológicas que envolvem a diminuição da dopamina e da oxitocina, acompanhada pela desregulação da serotonina. Essas mudanças afetam o sistema de recompensa, a percepção de ameaça e a regulação emocional, culminando em um afastamento abrupto e uma sensação de aversão. A compreensão detalhada desses mecanismos oferece uma base sólida para futuras intervenções terapêuticas voltadas à gestão do sofrimento emocional associado à rejeição.

Referências

Coria-Avila, G., Manzo, J., García, L. I., Carrillo, P., Miquel, M., & Pfaus, J. G. (2014). Neurobiology of social attachments. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 43, 173-182. https://doi.org/10.1016/j.neubiorev.2014.04.004

Kirsch, P., Esslinger, C., Chen, Q., Mier, D., Lis, S., Siddhanti, S., Gruppe, H., Mattay, V., Gallhofer, B., & Meyer-Lindenberg, A. (2005). Oxytocin modulates neural circuitry for social cognition and fear in humans. The Journal of Neuroscience, 25(49), 11489-11493. Oxytocin Modulates Neural Circuitry for Social Cognition and Fear in Humans

Love, T., Enoch, M. A., Hodgkinson, C. A., Pecina, M., Mickey, B., Koeppe, R. A., Stohler, C. S., & Zubieta, J.-K. (2012). Oxytocin Gene Polymorphisms Influence Human Dopaminergic Function in a Sex-Dependent Manner. Biological Psychiatry, 72(3), 198-206. https://doi.org/10.1016/j.biopsych.2012.01.033

Petereit, P., Rinn, C., Stemmler, G., & Müller, E. M. (2019). Oxytocin reduces the link between neural and affective responses after social exclusion. Biological Psychology, 145, 224-235. https://doi.org/10.1016/j.biopsycho.2019.05.002

Strathearn, L. (2011). Maternal Neglect: Oxytocin, Dopamine and the Neurobiology of Attachment. Journal of Neuroendocrinology, 23(11), 1054-1065. https://doi.org/10.1111/j.1365-2826.2011.02228.x

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