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Aversão a Jogos Competitivos em Superdotados com Alta Intensidade Emocional: Uma Interpretação Neurobiológica e Cognitiva

A questão que se impõe é: por que cérebros de alta capacidade cognitiva, em vez de se engajarem no prazer competitivo, demonstram rejeição a esse tipo de estímulo lúdico?

por Redação CPAH

A recusa ou aversão a jogos competitivos, como o pôquer ou plataformas online interativas, observada desde a infância em indivíduos superdotados com alta intensidade emocional, pode ser compreendida a partir da integração entre substratos neurobiológicos e construções valorativas cognitivas. A questão que se impõe é: por que cérebros de alta capacidade cognitiva, em vez de se engajarem no prazer competitivo, demonstram rejeição a esse tipo de estímulo lúdico?

1. Arquitetura Neural do Superdotado e a Sensibilidade ao Conflito Competitivo

A teoria DWRI (Development of Wide Regions of Intellectual Interference) descreve que cérebros com altas pontuações cognitivas apresentam maior conectividade funcional entre o córtex pré-frontal dorsolateral (BA 9/46), a junção temporoparietal e o sistema límbico. Essa conectividade expande a integração entre raciocínio abstrato, inteligência social e resposta emocional . Jogos como o pôquer envolvem blefe, manipulação e cálculo de risco — processos que, nesse perfil, ativam não apenas circuitos de recompensa dopaminérgicos, mas também núcleos relacionados à detecção de ameaça (amígdala) e à coerência moral (córtex orbitofrontal). O resultado é uma sobrecarga emocional que transforma o jogo em desconforto, não em entretenimento.

2. Intensidade Emocional e Desvalorização da Superficialidade

Indivíduos superdotados frequentemente apresentam desde cedo consciência ampliada da finitude, da morte e da fragilidade da existência. Essa característica, ligada à atividade integrada entre a rede default mode (DMN) e o córtex pré-frontal medial, orienta o pensamento para valores mais existenciais e altruístas . Jogos competitivos são então percebidos como práticas superficiais ou artificiais, sem relevância para a construção de sentido ou para o fortalecimento de vínculos. A aversão, portanto, não é apenas emocional, mas também axiológica.

3. Neurotransmissores, Motivação e Recompensa

A dopamina e a serotonina desempenham papel central nos mecanismos de prazer e motivação. Em cérebros altamente sensíveis, como os de superdotados, a estimulação dopaminérgica associada ao acaso ou à manipulação social pode não gerar o reforço esperado, mas sim aumentar a ansiedade e o desconforto . Em contrapartida, atividades construtivas e intelectualmente desafiadoras, que ativam redes corticais de criatividade e raciocínio lógico, oferecem reforço positivo genuíno.

4. Inteligência Social e Valores Éticos

Perfis de alta inteligência emocional e social, frequentemente associados à superdotação, manifestam uma forte tendência ao altruísmo, à integridade e à valorização da autenticidade . O pôquer, estruturado sobre ocultação de intenções e sobreposição de interesses individuais, entra em choque com esse padrão moral. O conflito não é apenas cognitivo, mas ético, reforçando a aversão.

Conclusão

A aversão a jogos competitivos em superdotados com alta intensidade emocional resulta de uma interação multifatorial: (1) hiperconectividade neural que amplia a percepção de incoerência social e moral, (2) consciência precoce da superficialidade de práticas competitivas, (3) dissonância nos circuitos dopaminérgicos de recompensa, e (4) alinhamento com valores éticos e altruístas. Em síntese, o jogo competitivo não encontra espaço como fonte de prazer nesse perfil, mas sim como estímulo dissonante que fere a coerência entre cognição, emoção e valores.

Referências

RODRIGUES, Fabiano de Abreu Agrela. Neurobiologia e Fundamentos da Inteligência DWRI. 2023. Manuscrito acadêmico.

RODRIGUES, Fabiano de Abreu Agrela. A relação entre o pensamento constante sobre a morte, o comportamento altruísta, a desvalorização da superficialidade e a inteligência. 2022.

GORIOUNOVA, N. A.; MANSVELDER, H. D. Genes, Cells and Brain Areas of Intelligence. Frontiers in Human Neuroscience, v. 13, p. 44, 2019. DOI: https://doi.org/10.3389/fnhum.2019.00044.

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