O presente estudo investigou o processamento autorreferencial e a mentalização em adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), conceitos essenciais para a cognição social. Estudos anteriores sugerem reduções no viés autorreferencial e na capacidade de mentalizar sobre os próprios pensamentos em indivíduos com TEA, mas com resultados inconsistentes. Este estudo buscou esclarecer essas inconsistências ao comparar diretamente múltiplos níveis de processamento autorreferencial e de mentalização em uma mesma amostra de adolescentes com e sem TEA.
Métodos
Participaram 56 adolescentes, sendo 30 diagnosticados com TEA e 26 neurotípicos, pareados por idade e QI. A coleta de dados incluiu tarefas computacionais para medir o viés autorreferencial de primeira ordem (tarefa de busca visual), segunda ordem (tarefa de adjetivos de traços) e mentalização autorreferencial (tarefa de sensação de saber), além de uma medida de mentalização voltada para terceiros (tarefa de animações Frith-Happé). Questionários aplicados aos pais (SRS-2 e SCQ) avaliaram os traços de autismo dos participantes.
Resultados
Os resultados mostraram:
Viés autorreferencial de primeira e segunda ordem intactos nos adolescentes com TEA, com desempenho semelhante ao grupo neurotípico em todas as tarefas correspondentes.
Capacidade preservada de mentalização autorreferencial no grupo com TEA, evidenciada pela precisão na tarefa de sensação de saber.
Redução significativa na capacidade de mentalização relacionada a terceiros (condição de Teoria da Mente na tarefa de animações Frith-Happé) no grupo com TEA.
Discussão
Os achados refutam as hipóteses de comprometimento generalizado no processamento autorreferencial em indivíduos com TEA. Em vez disso, eles apontam para déficits específicos na mentalização voltada para terceiros, enquanto o processamento relacionado ao self permanece intacto em múltiplos níveis. Esses resultados têm implicações importantes para o entendimento das bases cognitivas do TEA e sugerem que o desenvolvimento de intervenções focadas em habilidades de mentalização pode ser uma abordagem promissora para melhorar a cognição social nesses indivíduos.
Referência:
NIJHOF, Annabel D.; AMODEO, Letizia; WILLIAMS, David M.; WIERSEMA, Jan R. Self-bias and self-related mentalizing are unaltered in adolescents with autism. Journal of Autism and Developmental Disorders, [S. l.], v. 55, p. 1-27, jan. 2025. DOI: 10.1007/s10803-024-06705-8.