Benjamin et al. (2024) investigaram como a ancestralidade genética influencia a expressão gênica no cérebro humano, utilizando dados de indivíduos negros americanos neurotípicos com diferentes níveis de ancestralidade africana e europeia. Os autores identificaram milhares de genes diferencialmente expressos (DEGs) associados à ancestralidade genética, sendo que cerca de 60% desses genes são influenciados por variações genéticas.
Surpreendentemente, os resultados revelaram um enriquecimento significativo de genes relacionados à resposta imune e à vascularização entre os DEGs, enquanto não foram encontradas associações significativas com genes neuronais. Essa descoberta desafia a visão tradicional de que as diferenças na expressão gênica no cérebro são impulsionadas principalmente por fatores neuronais, sugerindo que a ancestralidade genética pode modular a expressão de genes relacionados a outros tipos celulares e processos biológicos.
Os autores também observaram que a direção do efeito da ancestralidade genética na expressão de genes relacionados à resposta imune variava entre as diferentes regiões do cérebro, indicando uma complexidade regional na regulação da expressão gênica. Além disso, o estudo encontrou um enriquecimento significativo da herdabilidade de doenças neurológicas, como acidente vascular cerebral isquêmico e Alzheimer, entre os DEGs, sugerindo que a ancestralidade genética pode contribuir para as disparidades raciais observadas na prevalência dessas doenças.
Em resumo, o estudo de Benjamin et al. (2024) destaca a importância de considerar a ancestralidade genética na pesquisa em neurociências e lança luz sobre os mecanismos moleculares que podem contribuir para as disparidades raciais na saúde cerebral. Ao identificar genes e vias moleculares específicas associadas à ancestralidade genética, a pesquisa abre caminho para o desenvolvimento de terapias personalizadas e intervenções preventivas mais eficazes, levando em conta a diversidade genética da população.
Referência:
BENJAMIN, Kynon J. M. et al. Analysis of gene expression in the postmortem brain of neurotypical Black Americans reveals contributions of genetic ancestry. Nature Neuroscience, v. 27, p. 1064–1074, 2024.