Introdução
A substância negra (SN) é uma estrutura essencial do cérebro que desempenha um papel crítico no controle dos movimentos. Este artigo de opinião visa explorar as descobertas apresentadas no estudo “Anatomical and functional organization of the human substantia nigra and its connections” publicado na revista eLife, destacando a importância funcional desta região e suas implicações na neurociência do movimento.
Evidências e Discussão
A substância negra é subdividida em duas partes principais: a pars compacta (SNc) e a pars reticulata (SNr). A SNc é conhecida por suas células dopaminérgicas, cuja degeneração está associada à doença de Parkinson, enquanto a SNr é crucial para a integração somatossensorial e a organização do movimento.
Parcelações e Conectividades:
A pesquisa de Zhang et al. (2017) identificou uma tripartição baseada em conectividade da substância negra com uma organização límbica, cognitiva e motora. A parte medial da SN conecta-se com regiões límbicas do estriado e do córtex, codificando valores de recompensa, enquanto a parte ventral conecta-se com regiões associativas, codificando saliência. A parte lateral está associada a regiões somatomotoras, também codificando saliência (Zhang et al., 2017).
Impulsividade e Tomada de Decisões:
A conectividade dentro da rede medial, que codifica valor, está associada à impulsividade decisional, enquanto a rede ventral, que codifica saliência, está relacionada à impulsividade motora. Essas descobertas destacam a heterogeneidade anatômica e funcional da substância negra e suas redes distintas que sustentam diferentes aspectos do comportamento impulsivo (Zhang et al., 2017).
Controle Motor e Distúrbios do Movimento:
A SNr, sendo a principal estrutura de saída dos gânglios basais, está envolvida na integração somatossensorial e na organização do movimento. Estudos mostraram que as alterações na atividade neuronal da SNr podem estar associadas a distúrbios do movimento, como os observados na doença de Parkinson, onde há um aumento da atividade dos núcleos de saída dos gânglios basais devido à hiperatividade do núcleo subtalâmico (Windels & Kiyatkin, 2006).
Conclusão
A substância negra desempenha um papel multifacetado no controle dos movimentos, integrando informações límbicas, cognitivas e motoras. Sua organização funcional complexa e as conexões distintas são fundamentais para a compreensão dos mecanismos subjacentes a vários comportamentos impulsivos e distúrbios do movimento. Estudos contínuos sobre suas redes e conectividades são essenciais para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas para doenças neurodegenerativas como o Parkinson.
Referência
ZHANG, Yu; LARCHER, K.; MIŠIĆ, B.; DAGHER, A. Anatomical and functional organization of the human substantia nigra and its connections. eLife, 2017.
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