A multifatoriedade dos comportamentos de Jeffrey Dahmer: Uma análise à luz da neurociência

O caso de Jeffrey Dahmer, um dos mais infames serial killers da história, continua a despertar interesse e perplexidade tanto no público quanto na comunidade científica. Este artigo de opinião examina as complexas interações de fatores neurobiológicos, psicossociais e ambientais que podem ter contribuído para os comportamentos aberrantes de Dahmer, com base no estudo de caso “Jeffrey Dahmer: Multifatoriedade à Luz da Neurociência” de Fabiano de Abreu Rodrigues e Francis Moreira da Silveira.

Contexto Histórico e Perfil Criminal

Jeffrey Dahmer cometeu 17 assassinatos entre 1978 e 1991, caracterizados por atos de canibalismo, necrofilia e desmembramento. Os seus crimes não foram impulsivos, mas cuidadosamente planejados, o que sugere um controle consciente sobre suas ações. A motivação por trás dos seus atos parece estar ligada a uma combinação de impulsos sexuais desviantes e uma profunda necessidade de controlar e possuir suas vítimas de forma absoluta e permanente (Rodrigues & Silveira, 2023).

Fatores Neurobiológicos

A análise neurocientífica do comportamento de Dahmer revela várias anomalias potenciais. Durante a gestação, sua mãe fez uso de psicofármacos, incluindo fenobarbital, que está associado a defeitos congênitos e ao desenvolvimento de transtornos neurológicos. Estudos indicam que a exposição pré-natal ao fenobarbital pode levar a prejuízos na memória de trabalho, aprendizado espacial e comportamentos semelhantes à esquizofrenia em modelos animais (Bhardwaj et al., 2012; Bath & Scharfman, 2013).

Além disso, Dahmer foi diagnosticado com transtorno de personalidade borderline e transtorno de personalidade esquizotípica. Indivíduos com essas condições frequentemente exibem comportamentos impulsivos, instabilidade emocional e distorções na percepção da realidade, o que pode explicar parte das ações violentas e manipuladoras de Dahmer (Smith, 1992).

Impacto do Ambiente e Traumas de Infância

A infância de Dahmer foi marcada por eventos traumáticos, incluindo a suspeita de abuso sexual aos oito anos e a cirurgia de hérnia inguinal dupla aos quatro anos, que o deixou com medo de ter perdido seu pênis. Tais eventos podem ter contribuído para uma formação emocional e psicológica distorcida, exacerbando tendências agressivas e comportamentos desviantes (Biography.com Editors, 2014; Imrie, 1991).

Comportamentos Canibais e Necessidade de Controle

O canibalismo praticado por Dahmer pode ser interpretado como uma tentativa extrema de internalização de suas vítimas, uma forma de controlar e possuir seus corpos de maneira definitiva. Isso está intimamente relacionado ao seu medo de abandono e à sua necessidade de manter as vítimas próximas de si de maneira permanente. Esse comportamento reflete uma complexa interseção de desvios sexuais, necessidades emocionais e distúrbios de personalidade (Raymond, Léger & Gasman, 2019).

Diagnósticos Psiquiátricos

Os diagnósticos psiquiátricos de Dahmer incluíram transtorno de personalidade borderline, transtorno de personalidade esquizotípica e um possível transtorno psicótico. A presença dessas comorbidades sugere uma profunda desregulação emocional e cognitiva, com déficits significativos em áreas como a amígdala e o córtex pré-frontal, responsáveis pelo controle emocional e pela tomada de decisões sociais (Karlsdottir et al., 2010; McCutcheon, Krystal & Howes, 2020).

Conclusão

O estudo do caso de Jeffrey Dahmer ilustra a complexidade das interações entre fatores neurobiológicos, psicológicos e ambientais na formação de comportamentos violentos e desviantes. Embora a neurociência forneça insights valiosos sobre as possíveis causas de tais comportamentos, é essencial considerar a multifatoriedade e a singularidade de cada caso. A prevenção e o tratamento eficazes de transtornos mentais graves requerem uma abordagem integrada que leve em conta todos esses aspectos.

Referência:

RODRIGUES, F. de A. A., & SILVEIRA, F. M. da. (2023). Jeffrey Dahmer: Multifatoriedade à Luz da Neurociência. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, 9(1), 532-548. DOI: 10.51891/rease.v9i1.8273.

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