A mentira, um comportamento complexo e multifacetado, tem sido objeto de estudo em diversas áreas do conhecimento, incluindo a psicologia e a neurociência. Em crianças, a mentira pode ser motivada por diferentes fatores, desde o medo de punição até a busca por recompensa e reconhecimento social. De acordo com Abreu Rodrigues (2022), a mentira, enquanto mecanismo de defesa, é uma conquista no desenvolvimento individual, pois pressupõe a existência de um mundo inacessível aos outros. No entanto, a prática excessiva da mentira pode levar ao desenvolvimento da mitomania, um transtorno psicológico caracterizado pela compulsão em mentir.
A neurociência tem contribuído para a compreensão dos mecanismos cerebrais envolvidos na mentira. Estudos de neuroimagem apontam para uma alteração na substância branca da região pré-frontal em indivíduos mitômanos, sugerindo uma possível relação entre a estrutura cerebral e o comportamento mentiroso (Abreu Rodrigues, 2022). Além disso, a disfunção de neurotransmissores, como a dopamina, pode estar associada à busca por recompensa e prazer na mentira, perpetuando o ciclo da mitomania.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tem se mostrado eficaz no tratamento da mitomania, auxiliando o indivíduo a regular seus neurotransmissores e a desenvolver habilidades para lidar com a ansiedade, a depressão e outros transtornos associados à mentira compulsiva (Abreu Rodrigues, 2022). Em suma, a mentira infantil, embora possa ser considerada um comportamento normal em certas circunstâncias, requer atenção e intervenção quando se torna compulsiva e interfere no desenvolvimento saudável da criança. A compreensão dos aspectos psicológicos e neurocientíficos da mentira é fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e tratamento da mitomania.
Referência:
Abreu Rodrigues, F. (2022). Mitomaníaco: como lidar com crianças que mentem o tempo todo. Brazilian Journal of Development, 8(1), 2249-2258.