A memória epigenética das experiências sociais precoces

A arquitetura cerebral é moldada de forma crucial durante os primeiros anos de vida, sendo um período de grande oportunidade e vulnerabilidade. As experiências sociais vividas nesse período inicial podem deixar marcas duradouras no cérebro, com impactos ao longo da vida. A epigenética, o estudo das modificações químicas no DNA que alteram a expressão gênica sem modificar a sequência de DNA, tem fornecido importantes insights sobre como essas experiências precoces são “lembradas” pelo organismo.

Hoffmann e Spengler (2012) destacam o papel da metilação do DNA, uma modificação epigenética chave, como um mecanismo potencial para explicar como as vivências sociais na infância se incorporam aos circuitos cerebrais em desenvolvimento. As experiências positivas, como o cuidado materno adequado, podem levar à ativação de genes que promovem o desenvolvimento saudável do cérebro e a resiliência ao estresse. Por outro lado, experiências adversas, como abuso ou negligência, podem induzir modificações epigenéticas que aumentam o risco de problemas de saúde mental e física ao longo da vida.

O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), responsável pela resposta ao estresse, é particularmente sensível às influências epigenéticas durante o desenvolvimento. Estudos em roedores demonstraram que o cuidado materno inadequado pode levar a alterações na metilação do DNA em genes relacionados ao eixo HPA, resultando em uma resposta exagerada ao estresse na idade adulta (Hoffmann & Spengler, 2012).

Embora ainda haja muito a ser descoberto sobre os mecanismos epigenéticos envolvidos na memória das experiências sociais precoces, as evidências atuais sugerem que a metilação do DNA desempenha um papel crucial na formação de “memórias” duradouras que moldam o desenvolvimento cerebral e a saúde ao longo da vida.

Referência:

HOFFMANN, A; SPENGLER, D. DNA memories of early social life. Neuroscience, v. 211, p. 1-12, 2012.

Related posts

O controle emocional em superdotados: mecanismos cerebrais, celulares, moleculares e genéticos

O choro de bebê incomoda superdotados, mesmo os pais

Insegurança: O Egocentrismo Camuflado pela Empatia e Suas Bases Neurocientíficas